A documentação que vai chegando às mãos da CPI e as revelações trazidas pela imprensa começam a completar, pouco a pouco, o quebra-cabeça do esquema de movimentação irregular de dinheiro por intermédio das empresas do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza. Ao que tudo indica, o país está diante de uma grande operação de captação de recursos de caixa dois e lavagem de dinheiro pela qual o empresário vinha abastecendo o Partido dos Trabalhadores e os políticos por ele indicados.
Os fatos apurados já reduziram a pó a fantasiosa versão de que as empresas de Valério apenas ofereceram uma providencial ajuda à legenda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se encontrava em dificuldades para saldar compromissos de campanha e se viu forçada a operar com dinheiro "não-contabilizado".
São cada vez mais enfáticos os sinais de que o publicitário conta com uma rede de empresas utilizada para intermediar doações clandestinas e procurar "esquentá-las". Não se sabe ainda a dimensão do fundo que se acumulou, mas os indícios são de que parte considerável da arrecadação se encontra no exterior.
Ao admitir que recebeu recursos não-declarados da empresa Usiminas por intermédio de Valério, o ex-candidato a prefeito de Belo Horizonte Roberto Brant, deputado do PFL mineiro, forneceu novas evidências para o esclarecimento do esquema. Juntamente com relatos sobre a atuação pregressa do publicitário, os serviços prestados a Brant -e também a políticos do PSDB- sugerem a existência de uma grande máquina montada para atender necessidades de financiamento de políticos.
Se tudo indica que essa estrutura prosperou como nunca sob a gestão petista, há elementos para acreditar que Valério não discrimina clientes. Seguindo a velha máxima que orienta o espírito empreendedor, "identifique uma necessidade e a preencha", o empresário parece não ter perdido a oportunidade de se estabelecer no rentável ramo da falcatrua política, montando o que se poderia chamar de uma "Lavabrás" -ou seja, uma "lavanderia" de dinheiro escuso destinado a alimentar campanhas, partidos e políticos.
Será difícil evitar que outras contribuições, além das já identificadas, venham a público. A perspectiva é que o país conheça em breve o nome de novas empresas doadoras, desnudando-se, ao menos em parte, o intenso comércio de interesses privados em torno do Estado.
A confirmação desse cenário não poderá deixar de ter conseqüências graves para a instituição política brasileira e, em particular, para o petismo, que chegou ao poder -e nisso de maneira semelhante ao presidente Fernando Collor de Mello- apresentando-se como um agente moralizador dos costumes.
É fato que, à diferença do aventureiro das Alagoas, o presidente Lula está amparado por um partido com raízes em movimentos sociais e numa história de embates e conquistas. Mas, se essas circunstâncias lhe fornecem uma base de sustentação mais sólida do que a do "caçador de marajás", não se pode descartar seu esfacelamento -aliás, já em curso- à luz de novas revelações. O tempo dirá. Resta esperar que a democracia brasileira confirme o vigor demonstrado em outras ocasiões e permita que o país atravesse essa crise sem tergiversações, mas com a necessária maturidade.
Entrevista:O Estado inteligente
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