o estado de s paulo
Nas conversas que teve durante toda semana passada com auxiliares e aliados mais próximos sobre os desdobramentos da crise e o futuro imediato do governo, o presidente Luiz Inácio da Silva deu mostras de compreender perfeitamente que a conquista de um novo mandato já não pode ser mais seu projeto prioritário.
Embora tenha posto a reeleição no centro do debate naquele discurso da semana passada em que se proclamou a maior autoridade brasileira em matéria de moral e bons costumes, internamente Lula confere outra abordagem à questão. cManifesta disposição de fazer uma ampla e profunda reforma não apenas nos ministérios, mas também na concepção de governo, agora livre da filosofia centralizadora, baseada exclusivamente na lógica da disputa, manutenção e ampliação de poder, adotada pelo ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu.
Se realmente fará o que diz, seus interlocutores não sabem dizer, mas é fato que o presidente enxerga duas tarefas a serem executadas de imediato: a reconstrução da imagem do comprometimento ético e a montagem de uma “agenda de responsabilidade institucional”, aí entendida como a recuperação dos critérios formais de condução do governo, inclusive na relação com o Congresso. A reeleição, nesse quadro, viria como resultado. Mas, há consciência disso dentro do Palácio do Planalto, só no caso de o presidente obter sucesso naqueles dois itens postos como preliminares.
A aceitação da condição do PMDB para negociar a maior participação no governo, de desobrigar o partido a apoiar Lula em 2006, é o sinal mais eloqüente dessa inversão de prioridades. O presidente está hoje mais preocupado em viabilizar o governo em curso do que em sonhar um sonho que poderá vir a se tornar impossível.
Mas a tarefa de unir os pemedebistas em torno dessa proposta de apoio não será nada fácil de executar. O presidente do PMDB, deputado Michel Temer, disse ao presidente da República na reunião de sexta-feira que não seria possível dar uma resposta rápida, na velocidade pretendida por ele, cujo plano seria anunciar a reforma do ministério já nesta semana.
Temer pediu sete dias, mas não pode dar garantias de que nesse prazo o assunto será resolvido. Nem bem saiu do encontro com Lula e já começou a receber manifestações contrárias dos governadores e dos diretórios regionais. A resistência mais poderosa sai do Rio de Janeiro, de onde o ex-governador Anthony Garotinho comandará a ofensiva contrária à adesão em ritmo de dedicação exclusiva. Até porque, para se viabilizar como candidato à Presidência, precisa antes de mais nada firmar-se junto à opinião pública como um contraponto ao governo.
Se o partido estiver aliado, por mais que se exclua o apoio à reeleição de Lula dessa aliança, o eleitorado não verá nitidez nessa posição. E, num quadro de dubiedade, a candidatura seria insustentável. As pessoas votarão em 2006 como votam em qualquer eleição: no governo ou na oposição.
Mas, independente de Garotinho, o cenário não é favorável ao governo no PMDB porque agora o horizonte de governadores, deputados e senadores também é francamente eleitoral. Os chefes de Executivos estaduais, por exemplo, não têm grandes preocupações em obter vantagens administrativas da União; essa hora passou. Agora dois fatores pesam muito mais: o humor da opinião pública e as condições políticas locais de enfrentamento com o PT.
Da mesma forma, as bancadas no Congresso, que sempre foram favoráveis à permanência do PMDB junto ao governo a fim de garantir as liberações de suas emendas e assegurar os favores da administração federal, hoje estão concentradas em suas próprias reeleições. Se o governo for um atrativo eleitoral consistente, ficam perto; se não for, afastam-se dele.
A decisão do PMDB de ampliar ou não a sua participação não depende dos convidados do almoço com Lula na sexta-feira. A partir de amanhã, o presidente Michel Temer vai iniciar as consultas que podem ser feitas por meio da convocação do Conselho Político do partido ou até de uma votação em convenção nacional extraordinária.
Já não se trata, como na primeira fase do relacionamento entre governo e PMDB, de os senadores José Sarney e Renan Calheiros emprestarem apoio e aceitarem os ministérios oferecidos pelo presidente. Se fizer isso, Lula apenas pagará mais para obter o mesmo. Sem contar que, da forma como foi encaminhada a proposta de reforço da participação pemedebista, ela vai de encontro àquela preliminar para a reeleição, a da recuperação da imagem do comprometimento ético de Lula.
A conversa em torno da distribuição de quantos ou tantos ministérios e diretorias de estatais repete o critério posto na berlinda pelo escândalo em cartaz, o da troca pura e simples de cargos por apoio no Congresso. Soa a barganha e, nessa altura dos acontecimentos, nem o PMDB está disposto a brigar com a opinião pública - vale dizer, o eleitorado em troca de quatro ministérios arriscando-se a levar junto no pacote um funeral.
Entrevista:O Estado inteligente
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