As aflições do PT merecem de Lula uma atenção que o País até agora não recebeu
Em socorro da eficiência administrativa, o presidente Luiz Inácio da Silva havia anunciado um "choque de gestão" como etapa seguinte à reforma ministerial. Mas até agora, tudo o que a gestão governamental ganhou foram três novos ministros do PMDB.
Se os cidadãos e o governo têm sido deixados em segundo plano, o PT não pode se queixar de falta de atenção.
Ao se agravar a situação para o lado do partido, com a queda da cúpula por força de denúncias, o presidente da República agiu com rapidez.
Deslocou ministros de Estado para a direção partidária e, para assumir a presidência, liberou ninguém menos que o ministro da Educação, Tarso Genro.
Deixou clara aí qual a prioridade. Se o titular da pasta da Educação pode ser transferido para apagar um incêndio no partido, está posta a primazia.
É isso, aliás, o que se ouve no governo: com as investigações de corrupção fora do alcance, correndo na velocidade dos próprios pés, a preocupação central no Palácio do Planalto é com o PT.
Assusta a possibilidade de a esquerda vir a assumir o controle do partido na eleição do novo presidente, em setembro.
O ideal seria adiar a escolha, mas a esquerda, fortalecida pelas denúncias que atingiram a cúpula, não vai deixar passar essa oportunidade única de tentar conquistar o poder.
Portanto, a única opção é jogar tudo para manter o controle nas mãos do Campo Majoritário, tendência de Lula, da maioria dos governistas e daqueles que foram afastados por relações mal explicadas com o lobista Marcos Valério Fernandes de Souza.
Neste "tudo" se inclui um pacote de providências cheio de efeitos especiais, como o "diário do tesoureiro" e o "programa de relacionamento" do partido com os ministros do PT.
O "diário" é o nome pelo qual passa a ser chamada a agenda do substituto de Delúbio Soares, José Pimentel. Ali estarão registrados todos os encontros de petistas para tratar sobre dinheiro.
Quem faz a agenda? Os petistas que vão se encontrar para tratar de dinheiro. Qual a utilidade disso? Nenhuma.
Já o "programa de relacionamento" dos ministros com o PT , se alguma serventia tiver, será para os adversários do presidente Lula dizerem que já não têm mais influência sobre metade do ministério.
O programa lançado por Tarso Genro prevê que ministros do PT prestem contas ao partido de suas ações administrativas. Os seja, reportem-se a ele, não a Lula. Inclusive Antonio Palocci, da Fazenda, que é do PT.
Há também no rol das soluções para a crise a criação de um gabinete especial para coordenar as bancadas do PT no Congresso e uma severa auditoria nas contas do partido.
Todas essas são providências meramente simbólicas, anunciadas para dar a impressão de organização num ambiente onde reina o caos e a perplexidade.
Andam às tontas o governo e o partido e, neste diapasão confuso, se misturam como nunca antes. Prestam socorro mútuo, enquanto fazem o discurso de que precisam se distanciar um do outro.
Houvesse algum senso prático no plano petista para sair da crise, teríamos de acreditar que o ministro Palocci submeterá sua agenda de trabalho à direção do PT.
Por ora temos um pacote de emergência publicitária. Até aí não haveria nada demais se o presidente Lula não aceitasse, em nome da salvação de sua corrente partidária, ser por ela destituído da função de comandar os ministros do PT.
Transparência real
Querendo, o PT pode fazer um gesto concreto de apego à transparência. Basta revogar a decisão do Diretório Nacional que no ano passado rejeitou sugestão do deputado Chico Alencar de exposição das contas de campanha na internet.
Na época, Delúbio Soares ajudou a derrubar a proposta, sob o argumento de que os doadores ficariam constrangidos . É de autoria do então tesoureiro a frase marcante: "Transparência assim é burrice."
Até o rei
Parlamentares petistas passaram o dia ontem aludindo à apreensão das malas de dinheiro do pefelista deputado-bispo da Igreja Universal, como se o episódio representasse um alento às próprias agruras.
De tarde, numa solenidade de sindicalistas no Planalto, Lula falou em denúncias de "aliados" e "adversários", não citou nenhum petista cujos nomes e sobrenomes já estão na lista das investigações, mas foi detalhista ao se referir ao caso da prisão do filho de Pelé.
A pretexto de relatar como havia sido solidário com Pelé, acabou revolvendo um episódio já em fase de administração puramente policial e familiar. Na busca de companhia para suas aflições, Lula foi cruel com o pai Pelé.
Nenhum comentário:
Postar um comentário