Entrevista:O Estado inteligente

sábado, julho 23, 2005

DORA KRAMER Jefferson busca novos parceiros

O Estado de S Paulo


Deputado procura oposição e oferece cabeça de Lula para tentar salvar mandato Esgotada com juros e correção monetária a fase de parceria com o PT, o deputado Roberto Jefferson agora corre atrás da oposição dizendo que cometeu "um erro" ao excluir o presidente Luiz Inácio da Silva de suas denúncias iniciais contra a cúpula do PT.

O petebista quer renovar suas alianças políticas e, na esperança de salvar o mandato que dizia ter sublimado, tenta pelo menos negociar com os partidos de oposição, PFL e PSDB, um tratamento mais brando para si.

Roberto Jefferson diz dispor de munição para ligar de forma incontestável o presidente da República ao esquema de arrecadação de dinheiro público e privado operado por meio das empresas de Marcos Valério de Souza.

Quem já ouviu o deputado a respeito diz que suas informações são graves e que ele manifesta disposição de divulgá-las a qualquer momento. O ex-presidente do PTB estaria arrependido de não ter, desde o começo, posto Lula no grupo dos petistas por ele acusados de atrair deputados para a base de sustentação do governo na base do pagamento de mesadas.

Jefferson teria cometido um "erro de cálculo" ao proteger Lula, pois tinha a esperança de que pudesse se recompor com o governo se o presidente se afastasse logo no primeiro momento dos acusados de montar o esquema de pagamentos.

Seria também este o motivo pelo qual no início Jefferson preservou José Dirceu, acusando Marcos Valério de agir a mando de Delúbio Soares, Silvio Pereira e José Genoino.

Na primeira entrevista ao jornal Folha de S. Paulo falando do mensalão, o então presidente do PTB afirmou ter denunciado a trama ao ministro da Casa Civil que, na versão dele, reagira indignado e suspendera as mesadas.

Sem sinal de armistício, na segunda entrevista Jefferson apontou Dirceu como o cabeça do esquema, eximindo o presidente da República de responsabilidade. Nos depoimentos seguintes no Conselho de Ética da Câmara e na CPI dos Correios repetiu a história, ressaltando a existência de um "cordão" de isolamento em torno do presidente para impedi-lo de saber o que se passava.

Lula não reagiu como Jefferson imaginara, o PT demorou a tomar providências e, no fim, o presidente ainda assumiu como verdadeira a tese de defesa dos acusados de que o escândalo diz respeito única e exclusivamente às distorções resultantes da legislação eleitoral e à prática do financiamento ilegal de campanhas.

Embora a oposição não queira fazer de Roberto Jefferson seu alvo principal, dificilmente aceitará firmar com ele uma parceria. Primeiro, pela impossibilidade real de partidos ou políticos prometerem proteção a quem quer que seja.

E, depois, porque não interessa à oposição a autoria, nem em regime de sociedade, de atos deliberados de denúncias contra Lula. Por enquanto, a opção continua sendo a de entregar o destino do governo e do presidente aos fatos.

De grego

Silvio Pereira não ganhou um automóvel Land Rover da GDK Engenharia porque era um dirigente do PT a quem um diretor da empresa se afeiçoou.

Ganhou porque tinha influência junto ao Palácio do Planalto. Da mesma forma, as facilidades concedidas ao partido por instituições públicas e privadas guardam relação direta com o governo, pois foram ofertadas a partir da conquista da Presidência da República.

Quem beneficiava o PT queria agradar o poder, senão por retribuição, ao menos por expectativa de obtenção de vantagens.

Pesquisa

Uma frase, ouvida por um político em contato com as 'bases" do interior nordestino explica parte da avaliação positiva de Lula nas pesquisas, a despeito da crise política.

"As comida tá barata, doutor", disse o eleitor com clareza suficiente para que a excelência medisse a distância entre a animosidade do Brasil que se mobiliza por meio de informação e a tolerância do Brasil que está de olho no preço do arroz e do feijão.

O primeiro já incorporou o conceito da estabilidade como valor consolidado, conquista social inarredável. O segundo ainda considera o controle da inflação uma dádiva dos governantes e atribui à bondade deles a concessão.

Boi dormindo

É só reparar: quem não está muito interessado em descer a detalhes ou considerações a respeito das evidências de corrupção e a identidade de seus envolvidos só fala em reforma política.

Como se fosse possível fazer qualquer coisa antes de ver o tamanho da demolição e saber quem sobreviverá em condições morais de integrar a equipe de reconstrução.

Evidentemente, as alterações a serem feitas no sistema político-partidário-eleitoral e as condições objetivas para tal não são mais as mesmas de tempos atrás.

Reforma agora é remendo de ocasião, tentativa de socializar o prejuízo e demonstração artificial de consciência cívica. O truque foi ensaiado também logo após a eclosão do caso Waldomiro Diniz, quando o então presidente da Câmara, João Paulo Cunha, tentou liderar um movimento pró-reforma.

Aplacada a crise, o mesmo João Paulo - hoje com o mandato em risco - negociou o arquivamento da proposta em troca do apoio do PTB, do PP e do PL ao seu projeto de reeleição.


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