Entrevista:O Estado inteligente

sábado, julho 09, 2005

CLÓVIS ROSSI De bombas e brumas

folha de s paulo

  LONDRES - Estava mesmo precisando sair um pouco do atoleiro em que o Brasil se meteu. Mas não para cobrir atentados a bomba, a pior forma de atoleiro concebível.
O diabo, de um ponto de vista brasileiro, é que as coisas são menos desgraçadas em uma cidade vítima de atentados do que no Brasil. Depois que você lê as avaliações da crise que têm feito líderes do governo e do PT, depois daquela história idiota da conspiração das elites para depor Lula, você chega a Londres desconfiado de que coisas piores serão ditas aqui, sob o impacto de mais de 50 mortes, o que seria até relevável.
Mas não. Há um sentimento mais ou menos generalizado de que a vida tem de continuar e que não pode ser pautada pelo terrorismo, ao contrário do Brasil, onde está sendo pautada por costumes políticos podres.
Não me refiro às arengas dos líderes políticos, como Tony Blair. Espera-se de governantes que digam mais ou menos o que ele disse. O que é notável é que cidadãos comuns, alguns deles com dificuldade para falar inglês, leiam corretamente a situação.
Firaz, por exemplo, sírio, há quatro anos com uma lojinha de doces árabes na Edgware Road (a Beirute londrina, um dos quatro pontos em que estouraram bombas), constata o óbvio: não será com esse tipo de atentados que os terroristas vão dobrar o Reino Unido (ou os Estados Unidos). "Matam apenas pessoas inocentes", lamenta Firaz.
É óbvio, eu sei. Mas, no Brasil, há tanta coisa óbvia que, mesmo assim, não consegue espaço na cabeça das pessoas. Já não digo das pessoas comuns, mas dos iluminados da política, incapazes de perceber que estão a anos-luz do sentimento da rua.
Conseqüência: o Brasil vive um momento (mais um, aliás) de atonia, de perplexidade, de falta de rumo, de incapacidade de elaborar um projeto nacional de desenvolvimento, mesmo na paz. Aqui, as brumas duram os segundos que duraram as explosões. Depois, cabeça erguida, ao contrário do brasileiro.

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