folha de s paulo
FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Pelo menos uma grande multinacional instalada no Brasil, uma importante instituição financeira nacional e um empresário fizeram depósitos para beneficiar o caixa dois do PT pelo esquema já descrito pelo empresário do setor de publicidade Marcos Valério de Souza. Esses valores entraram para o partido depois que Luiz Inácio Lula da Silva assumiu a Presidência da República.
A multinacional doou R$ 10 milhões. O banco, R$ 8 milhões. O empresário, R$ 30 milhões. As informações foram coletadas ontem pela Folha com pessoas de dentro do governo.
Ainda não está claro para todos a forma como foram efetuados os depósitos. O governo e parte da direção do PT não mentem quando dizem não haver um controle preciso de todas as operações. Sabe-se que os R$ 30 milhões recebidos do empresário tiveram pelo menos dois destinos: parte foi enviada para uma conta bancária controlada por Marcos Valério e parte para uma conta de um conhecido advogado de Brasília.
Triangulação
No caso da multinacional e do grande banco que fizeram as doações de R$ 10 milhões e R$ 8 milhões, respectivamente, o mais provável é que as operações tenham sido triangulares. Primeiro, empresas com alguma ligação com o setor publicitário receberam o dinheiro a título de prestação de um serviço fictício. Em seguida, repetiram essa fraude para entregar o pagamento ao esquema de Marcos Valério com o PT.
Essas informações devem começar a ficar públicas a partir da análise total dos sigilos fiscais das contas das empresas de Marcos Valério. Até ontem, os técnicos da CPI dos Correios só haviam se dedicado a esquadrinhar os saques realizados. A preocupação era saber quem se beneficiou.
Mais adiante, serão examinados todos os depósitos recebidos pelas contas bancárias de empresas de Marcos Valério. Ainda não se sabe exatamente qual é o estado dos empréstimos que o empresário diz ter contraído para repassar recursos ao PT.
Como funcionava
Quem conhece em profundidade o esquema, segundo a Folha apurou, afirma que ele funcionava mais ou menos assim:
1) triangulação - empresas eram contatadas para fazer alguma doação. Encontrava-se uma forma de disfarçar a entrega do dinheiro, com o interessado em doar pagando a um terceiro que repassava os valores para alguma empresa de Marcos Valério;
2) empréstimo fictício - para justificar a saída de dinheiro para o PT, Marcos Valério contraía empréstimos bancários e entregava o dinheiro ao partido -ou para outras siglas da base lulista no Congresso;
3) compensação - com o dinheiro que recebia em suas contas, Marcos Valério conseguia saldar os empréstimos bancários.
Esse esquema só poderá ser confirmado depois que todos os sigilos bancários de Marcos Valério forem analisados, incluindo as entradas e saídas de suas contas.
Depositantes
Para que fique tudo esclarecido, também será necessário que a CPI dos Correios quebre o sigilo bancário de alguns depositantes que enviaram dinheiro para o empresário apontado como um dos provedores do "mensalão". A aposta governista é que não haverá tempo para tudo ser investigado até o final da CPI. Além disso, a complexidade da operação triangular de captação de dinheiro poderá impedir que todos os doadores do caixa dois petista sejam identificados.
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