Na verdade, como também já se discutiu aqui, o Brasil segue sem estratégia para a Amazônia. Continua a administração pública a ignorar a proposta da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência de moratória no desmatamento (já há áreas desmatadas sem uso econômico suficientes para dobrar a produção agropecuária, como tem mostrado a Embrapa) e investimento pesado em ciência na região, para conhecer e utilizar a maior biodiversidade do planeta. Seguimos na velha trajetória de fornecedores de produtos primários a baixos preços ou baixo valor agregado para países industrializados, arcando com os custos ambientais e sociais, como têm ressaltado os relatórios das Nações Unidas.
Para comprovar isso mais uma vez, o Congresso aprovou também nos últimos dias um projeto de decreto legislativo que autoriza o Executivo a implantar a hidrelétrica de Belo Monte, a primeira de uma série no Rio Xingu, que vários estudos têm mostrado que terão impactos altamente negativos – para produzir eletrointensivos igualmente exportáveis para países que não querem fabricá-los, dados os seus altos custos energéticos, ambientais e sociais.
E aqui ainda subsidiamos a energia (a sociedade toda paga a diferença), como acontece em Tucuruí. Quem quiser saber de toda a extensão dos danos de Belo Monte e das outras usinas rio acima deve consultar o recém-publicado livro
Nesse ponto, chega-se à questão do polêmico modelo energético brasileiro, nesta hora em que se avolumam as pressões para que o País construa não só a usina nuclear de Angra III, como outras cinco – apesar de a ministra Dilma Roussef haver dito que existem outras fontes mais baratas “e damos preferência a elas, não à nuclear”. E apesar de o reputado Massachusetts Institute of Technology haver concluído que as usinas nucleares não são competitivas, sem subsídios (
A pressão não é apenas no Brasil, é em quase todo o mundo, sob o argumento de que não haveria alternativa para evitar que as emissões de poluentes que contribuem para mudanças climáticas aumentem em 60% nas próximas décadas. Mas há alternativas – tanto que vários países se estão convertendo a outras fontes e desativando as usinas nucleares (como a Alemanha e a Suécia, entre outros).
Não é diferente do caso da usina de Serra da Mesa, em Goiás, onde se passou por cima de todas as exigências legais e agora se enfrenta um inquérito que apura a contaminação das águas pelo mercúrio dos garimpos que havia no rio, a eutroficação gerada pela deposição de esgotos de várias cidades, a disseminação da raiva por morcegos expulsos, a contaminação por alumínio e fosfato.
Ou do professor Bautista Vidal, responsável pela implantação do Proálcool. Ele lembra que com as biomassas o Brasil poderá produzir 8 milhões de barris diários de biodiesel, tanto quanto a Arábia Saudita produz de petróleo. Mas só estamos prevendo adicionar 2% de biodiesel aos nossos combustíveis até 2008.
“Por que não 80%?”, pergunta ele. São as perguntas que martelam na cabeça de quem não se conforma com um modelo energético complicado e com a falta de estratégia para a Amazônia.
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