"O problema é que, em seu governo,
presidente, há ministros que, à luz do seu
pacote anticorrupção, deveriam ser afastados.
Assim, presidente, não há pacote que resista"
Presidente Lula: existe uma torcida coletiva para que o senhor não esteja envolvido nessa lama toda. Parece que os 52 milhões de brasileiros que votaram no senhor em outubro de 2002 estão, neste momento, cruzando os dedos para que não se tenham enganado em relação a um aspecto sobre o qual, a rigor, nem nutriam dúvidas – o de que o senhor faria um governo de respeito à ética e à moralidade pública.
Em nome dessa torcida coletiva, presidente, tome uma providência: transforme suas palavras em atos de tal modo que um e outro passem a andar no mesmo sentido. O que fica mal, presidente, o que gera dúvidas e desconfiança, o que acaba deixando aquela torcida com um receio danado de estar na arquibancada errada é verificar que suas palavras e seus atos andam numa estrada que, de repente, se bifurca – e os atos vão para um lado e as palavras vão para o outro.
O senhor já disse que investigaria tudo, que cortaria na própria carne, que não sobraria pedra sobre pedra. O senhor já disse que "nenhum governo na história republicana" fez "20%" do que o seu tem feito no combate à corrupção. O senhor já disse tudo o que o país precisava ouvir. Agora, é a vez de seus atos entrarem em sintonia com suas palavras. Por exemplo: o senhor chegou a mandar imprimir uma edição extra do Diário Oficial da União, com uma página apenas, só para publicar uma medida provisória e, assim, evitar a instalação da CPI do Mensalão no Congresso Nacional. Logo o senhor, que, num discurso recente dirigido a uma platéia de agricultores, disse que os parlamentares deveriam investigar tudo e arrematou assim: "Que criem quantas CPIs quiserem criar!".
Agora mesmo, presidente, alguns de seus mais próximos correligionários, como o presidente do PT, José Genoíno, e o ex-ministro José Dirceu, se empenharam em evitar que a CPI dos Correios quebrasse o sigilo bancário das empresas de Marcos Valério, acusado de ser o operador do mensalão. Presidente: repita aos seus liderados que sua ordem é para investigar tudo, sem ficar pedra sobre pedra, e isso inclui examinar as contas de Marcos Valério. O senhor prometeu, naquele discurso aos agricultores, que seriam feitas investigações "contra quem quer que seja, sem bravata". Repetindo: sem bravata. São palavras suas.
Presidente: o senhor acaba de lançar um pacote contra a corrupção, apertando o torniquete contra roubalheiras de servidores públicos. É bom que seja assim. O problema é que, em seu governo, há ministros que, à luz do seu pacote anticorrupção, não poderiam ser mantidos no cargo. Assim, presidente, não há pacote que resista.
O senhor tem prometido um duro combate à corrupção e o senhor sabe que boa parte das roubalheiras é comandada pelos partidos por meio de seus apaniguados nos cargos públicos. Mesmo assim, o senhor acaba de oferecer quatro ministérios ao PMDB. Ao PMDB, presidente! O PMDB é o partido de Romero Jucá, que está sob suspeita de desvio de dinheiro! O PMDB é o partido do ministro que cuida dos Correios. Dos Correios, presidente!
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