Entrevista:O Estado inteligente

sábado, maio 08, 2010

MAURO CHAVES COISAS DAS ELEIÇÕES

O ESTADO DE S.PAULO - 08/05/10
Plano B do PT?
Enquanto parte dos tucanos comemora os sucessivos tropeços da
pré-candidata presidencial petista, outra parte, cautelosa, faz a
seguinte ponderação: o desgaste de Dilma Rousseff está ocorrendo cedo
demais e com rapidez surpreendente. Isso não é nada bom para José
Serra, porque haverá tempo, até as convenções de junho, de Lula - que
já percebeu o risco do desastre - lançar um "plano B". E este é o
argumento dos cautelosos: Lula sabe muito bem, porque nenhuma
experiência lhe falta (ao contrário de sua candidata), que há limite
na galhofa com que tem tratado a legislação e a Justiça Eleitoral.
Intensificando-a, acabará provocando algo mais do que multinhas (que
pede ao povo que pague), porque a Justiça Eleitoral não se deixará
desmoralizar. Então, isso pode resultar numa impugnação da candidatura
de Dilma. Nessa hipótese, o presidente estaria livre do
constrangimento de ter de substituí-la sponte sua. E aproveitaria para
explorar ao máximo a "violência" legislativo-judicial, que teria
destituído da sucessão presidencial, injustamente, a competente e
íntegra "mãe do PAC".
Quanto à dificuldade de encontrar alguém para substituir Dilma na
sucessão, dizem os tucanos cautelosos que não será tão grande assim. O
PT ainda tem bons quadros, como Marta, Suplicy, Palocci, Cardozo,
Pimentel, Wagner, Genro e outros, e qualquer um destes teria
experiência política suficiente para não dar vexame numa campanha
eleitoral, além de condições muito melhores de se tornar receptor
eficiente da recordista popularidade presidencial.
PT descarta São Paulo?
O não-comparecimento do presidente Lula ao lançamento da candidatura
do senador Aloizio Mercadante para governador de São Paulo foi uma das
maiores duchas frias já lançadas no espaço político-eleitoral
brasileiro, nos últimos anos. O PT nasceu em São Paulo, Lula se fez em
São Paulo, este é o maior colégio eleitoral do País - afora ser o
Estado mais importante da Federação.
Está certo que parece uma espécie de "missão impossível" vencer
Geraldo Alckmin em outubro, considerando-se a distância que o tucano
já abriu nas pesquisas (Mercadante perde para ele por 53 a 13, no
último Datafolha). Mas isso não justifica o fato de o presidente Lula
nem se ter preocupado em explicar sua gritante ausência, quando todo o
evento estava montado, ansiosamente, na expectativa de sua presença.
Parece que o Planalto desprezou o cacife eleitoral de um senador que
há oito anos obteve cerca de 10 milhões de votos no Estado. Dele foi
tirada a oportunidade de tentar uma reeleição ao Senado e a ele foi
oferecida uma pedregosa candidatura governamental de segunda escolha
(a primeira era de Ciro Gomes), apenas insuflada pela duvidosa
promessa de criar recall para uma eventual candidatura à Prefeitura
paulistana, em 2012.
O pior, no entanto, foi o que fizeram com o senador na festa-comício
do 1.º de Maio. Deixaram-no atrás da "comissão de frente" do palanque
(formada por Lula, Marisa, Dilma e Marta), onde ele tentava,
penosamente, juntar sua mão levantada às dos "maiorais"na frente, como
se fosse um "papagaio de pirata" - aquele que sai nas fotos dos
jornais com pessoas importantes, mas sem nenhuma identificação.
Realmente, o senador deveria ser tratado com maior consideração - ou,
pelo menos, não ser forçado a engolir tamanha quantidade de sapos.
Ceará serrará?
Não bastasse o "pote até aqui de mágoa" em que mergulhou Ciro Gomes -
logo ele, um político com a elevada autoestima própria dos originários
dos "Estados Unidos de Sobral"; não bastasse a fidelidade extrema que
dedicou ao presidente Lula e a todo o seu governo, defendendo-os nos
momentos mais difíceis, com contundência só equiparável à da senadora
Ideli Salvatti (PT-SC); não bastasse que, por insistência do
presidente Lula, tivesse ele abandonado todo o seu eleitorado
cearense, ao transferir seu título eleitoral para São Paulo, depois
que Ciro sofreu de Lula e de seu partido, o PSB, a maior rasteira
político-eleitoral já ocorrida na cena pública brasileira nas últimas
décadas, pelo menos desde a que vitimou Cristiano Machado em 1950, a
visita de Dilma Rousseff ao Ceará, logo após seus marcantes eventos em
Minas (o do túmulo do Tancredo Neves e o da "Dilmasia"), foi,
realmente, uma pesada gota d"água, da qual passou bom recibo a
senadora Patrícia Saboya (PDT-CE), ex-mulher e fiel aliada do
ex-pré-candidato presidencial cearense.
Em razão disso, o senador Tasso Jereissati, com quem seus
correligionários tucanos não contavam muito na montagem de um palanque
no Ceará para José Serra, graças à mágoa dos irmãos Gomes (Cid,
governador e Ciro, ex-governador), tornou-se um bom palanque na terra
alencarina, a ponto de já se acreditar que o Ceará serrará - pois,
como diz o ditado, o ódio novo abafa o velho.
Guerra e marketing
É possível que a guerra judicial que se está travando entre as duas
principais pré-candidaturas presidenciais, com o ajuizamento cada vez
mais frequente e recíproco de representações e ações na Justiça
Eleitoral, comece a arrefecer à medida que decisões judiciais possam
deixar mais claras as exigências de uma legislação que sempre foi
ambígua e confusa.
Uma coisa, porém, é certa: a iniciativa da denúncia pode favorecer o
adversário. Por exemplo, quantos nem tinham ouvido falar do site
"gentequemente", passando a conhecê-lo só depois que se falou tanto em
denunciá-lo na Justiça Eleitoral?
Então, os partidos políticos precisam tomar cuidado para que seu
anseio judicial não favoreça o anseio mercadológico dos adversários.

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