Entrevista:O Estado inteligente

segunda-feira, junho 16, 2008

Valdo Cruz - Muito estranho



Folha de S. Paulo
16/6/2008

Algo estranho, muito estranho anda acontecendo na capital federal. Não é que, em meio às comemorações do crescimento da economia de 5,8% no primeiro trimestre, ministros do governo Lula celebraram um início de desaceleração nos últimos meses. Isso mesmo, ficaram satisfeitos e consideraram até desejável a queda no ritmo econômico. Algo simplesmente inimaginável alguns meses atrás.
Tudo bem, tem uma explicação, mantido aquele ritmo do início do ano, a inflação tenderia a subir ainda mais num cenário de fortes pressões externas. Mas que soa bem estranho, lá isso soa.
Estranhezas à parte, o fato é que o país ainda não tem condições de crescer 6% ao ano. O próprio ministro Guido Mantega admitiu isso em conversas com assessores palacianos. Disse que a economia vinha girando entre 5,8% e 6% e que era necessário baixar a velocidade para algo entre 4,8% e 5%.
Claro que o vento externo desfavorável explica uma parte da pisada no freio. Mas talvez não precisássemos dela se Lula não tivesse fechado as portas para uma estrada que poderia nos levar a um mundo bem melhor do que o atual.
Se teve a coragem de enfrentar sua antiga base de apoio ao adotar uma política econômica ortodoxa, Lula não demonstra a mesma vontade para avançar um pouco mais no sentido de reduzir o tamanho do Estado em determinados setores, abrindo espaço não só para o setor privado como para os investimentos públicos.
Mas isso, tudo indica, é pedir demais ao petista. Essa linha ele não vai ultrapassar. Não será ele o presidente a despertar, definitivamente, o instinto animal do nosso empresariado.
Para isso, teria de adotar as famosas reformas, como a da Previdência, que simplesmente cansei de dizer que ele não adotou. Não vai adotar. E ponto final. Em suma, cresceremos a taxas próximas de 5%. Não é pouco. É bom. Mas poderia ser bem melhor.

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