Os Amigos dos Amigos (ADA) mandam no Morro da Mineira. E os Companheiros dos Companheiros (CDC) dão as cartas em boa parte da imprensa e, claro, no governo, onde também são influentes os Compadres dos Compadres. A quantidade de sandices escritas em dois dias sobre o Exército Brasileiro raramente teve paralelo na história, até culminar com o pedido de desculpas do ministro Nelson Jobim, da Defesa. Pedido sem dúvida justificado, já que procurava falar, segundo entendi, em nome do estado brasileiro. Mas é claro que se dava ali uma tintura dramática — e um tanto demagógica e populista, com Jobim tomando um cafezinho em copo de geléia oferecido por uma "pobra" — a uma formidável crônica de erros. É evidente que a ocorrência é grave, mas é patético que o estado brasileiro, por meio de seus governantes e representantes legais, ceda a uma “manifestação popular” que, a esta altura, já está devidamente orientada. E a orientação, como é comum nesses casos, obedece às ordem dos donos dos morros. E a lei vigente por ali não é a do estado brasileiro, mas a do Estado Sem Pátria do Narcotráfico. Explico-me. A polícia do Rio, volta e meia, faz muitos mais vítimas. Não vai longe, uma milícia saiu matando a esmo, com dezenas de mortos. Guerras entre facções podem eliminar dezenas. E nunca se viu a “comunidade” revoltada. Nunca se assistiu a tamanho alvoroço dos Companheiros dos Companheiros. É a velha história: lá no morro, todos são ianomâmis, todos são nhambiquaras, eles que se virem e se matem. Até a Polícia já faz parte da guerra de tribos. A solidariedade dos “formadores de opinião” só aparece quando a “reserva indígena” é “invadida” pelos "brancos" do Exército. Aí os valentes consideram um crime antropológico. Quanta hipocrisia! Quanta conversa mole! Quando crimes acontecem, costuma-se pedir a punição e a prisão dos culpados. Nesse caso, isso já está dado: os 11 soldados envolvidos na operação estão presos. Então é preciso reivindicar outra coisa. O quê? Ora, a saída do Exército do morro. Ah, é preciso devolver a Mineira a seu verdadeiro dono, não? E quem é? O Comando Vermelho. Então chegamos ao ponto. Quando a polícia mata traficantes — ou mesmo suspeitos —, tudo bem. Estamos na normalidade. Caso se dê o contrário, e policiais morrem quase todo dia, também não é de se estranhar. Se uma facção entra em choque com a outra, igualmente se trata de algo corriqueiro. Mas o “escândalo” de agora se deu porque soldados do Exército, além de terem cometido um crime, praticaram uma afronta “ética” — segundo a perversa ética vigente por ali: entraram na economia interna dos bandos que comandam o tráfico no Rio. Onde já se viu entregar gente do morro do Comando Vermelho aos chefes do morro dos Amigos dos Amigos? Isso é mesmo um absurdo. O presidente Lula tem mais é que se indignar, não é mesmo? E aí se abriu a temporada de caça e de cassa ao Exército, uma das instituições que gozam de mais prestígio junto à opinião pública, é bom que se diga. A situação já não vinha bem. Dois soldados que não respeitam o preceito constitucional da disciplina — REITERO: É A CONTITUIÇÃO QUE DIZ, NO ARTIGO 142, QUE AS FORÇAS ARMADAS SÃO ORGANIZADAS “COM BASE NA HIERARQUIA E NA DISCIPLINA” — inventam uma acusação de homofobia e ganham as manchetes. A morte de um cadete durante um treinamento levou a suspeição sobre os métodos empregados pela Força — nota: deve morrer menos soldados nessas circunstâncias do que universitários em trotes de calouros. O trágico episódio do Rio ajudou a forjar a imagem de uma espécie de inimigo da sociedade. As bobagens foram sendo ditas em cascata: pelos “Companheiros dos Companheiros” da imprensa, que repetiam que a atuação do Exército é inconstitucional — não é, embora deva ser regulamentada por lei cmplementar; pelos “Companheiros dos Companheiros do governo — Tarso Genro aproveitou para dizer que isso mostra que as Forças Armadas não podem se dedicar a tal tarefa (como se os soldados tivessem agido de acordo com algum código militar); de analistas ligeiros — para quem o evento evidencia que o Exército é mal treinado; do presidente da OAB, Cézar Britto, que resolveu seguir na mesma toada. E a questão é outra. A manutenção da lei e da ordem é uma das tarefas das Forças Armadas, sim, senhores, e ela precisa ser regulamentada, como lembrou com correção o deputado Raul Jungmann (PPS-PE), presidente da Comissão de Segurança da Câmara, embora, à diferença dele, eu me oponha a que o Exército deixe agora o Morro da Mineira. Agora? De jeito nenhum! Fazê-lo corresponde a ser tangido de lá pelo Comando Vermelho. Ora, que os Tarsos e os Brittos parem de falar e de posar para os holofotes da demagogia e se se mobilizem em favor da regulamentação do parágrafo primeiro do Artigo 142 da Constituição. Que, sobretudo, parem de se comportar como se a paz antes reinasse no Rio, só interrompida pela ação tresloucada de um tenente e seus subordinados. Os que pedem a saída do Exército do morro — a começar da Defensoria Pública Federal — têm qual proposta para os moradores? Já sei: que fiquem submetidos à canga da bandidagem. Afinal, não podemos interferir nos costumes de índios infanticidas nem nos hábitos dos nativos do morros, cuja “cultura” prevê mesmo alguns atos de violência, não é? Gente hipócrita! Nota: repararam que não se ouviu uma só crítica aos narcotraficantes? Nada! O maior lobby brasileiro, o mais numeroso e poderoso, é o lobby do crime. |
Por Reinaldo Azevedo |
Entrevista:O Estado inteligente
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quarta-feira, junho 18, 2008
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