Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, junho 17, 2008

Reinaldo Azevedo, O Exército na favela e a falácia lógica

As escolas voltarão a dar aulas de filosofia. Será, aposto, o caminho aberto para o proselitismo mais estúpido. Uma das disciplinas da filosofia e da matemática, a lógica, certamente passara longe das aulas. Afinal, forçoso seria que o mestre dominasse o instrumental, não? Somos ruins pra chuchu nessa matéria. Querem ver? Já cansei de ler textos que sustentam que o episódio envolvendo os soldados do Exército, no Rio, que entregaram três jovens a traficantes, demonstra que as Forças Armadas não podem mesmo patrulhar os morros. Aparentemente, o juízo parece conter alguma verdade.

Vamos ver. Foi agindo como soldados, cumprindo a sua missão, que eles cometeram tal barbaridade? É inerente ao serviço das Forças Armadas deter três pessoas, acusadas de desacato, e entregá-las a traficantes? Em que código do Exercito está previsto o procedimento? Sim, para que se declare a incompatibilidade entre as Forças Armadas e o trabalho de resgate de partes do território dominadas pelo tráfico, é preciso que se aponte onde está prevista essa impossibilidade.

Ora, um dos males da Polícia do Rio — e dos outros estados também — é sua conivência com o crime, não? No estado, é fato, essa contaminação assumiu proporções alarmantes. Será o caso de dizer que também a Polícia Militar e a Polícia Civil não estão preparadas para enfrentar o narcotráfico? Ora, diabos! Então realmente é preciso chamar as facções criminosas para negociar. Que se faça a mesa redonda com os Senhores da Guerra dos morros e se declare extinto o estado brasileiro.

Os soldados que cometeram aquele crime não agiram como homens do Exército, mas como bandidos — é devem ser tratados e julgados pelo que são. É uma bobagem, uma estupidez e uma injustiça querer atribuir à Força a ação isolada de algumas marginais que nela estavam abrigados. Sim, talvez seja o caso de o Exército também se repensar, assunto que pretenderei abordar em outro texto. Mas vamos devagar com o andor.

Revoltados
Muitos leitores ficaram revoltados porque afirmei que a baderna promovida pelos moradores do Morro da Providência era estimulada pelo narcotráfico. É mesmo? Lamento. O fato é autocomprovável. A primeira ação dos valentes "moradores" foi retirar a bandeira brasileira que havia sido hasteada no alto do morro. É uma questão simbólica. Cada facção hasteia o seu pendão nas áreas de quem tem o domínio. Na Providência, manda o Comando Vermelho. A bandeira brasileira, ali, era a intrusa. E foi retirada.

Os “moradores” não estavam apenas protestando contra as mortes. Eles tinham uma reivindicação: a saída do Exército, cuja permanência está prevista até dezembro. Até os trabalhadores da obra que os soldados protegem os querem longe do morro. Que coisa, não? Os bravos operários preferem ficar à mercê apenas do Comando Vermelho!!! O Exército responde, indiretamente, por três mortes. Quanto o CV mata por ali sem que saibamos?

Ademais, os assassinos, de fato, são os narcotraficantes. Por acaso eles também serão punidos e deixarão a área? Não. A saída do Exército implica restabelecer o comando único: o do tráfico. E é claro que os “moradores” sabem disso. Lamento: os baderneiros estão lá cumprindo uma tarefa determinada pelos donos do pedaço.

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