Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, junho 18, 2008

Lá vai a galinha dos ovos de ouro Por Ralph J. Hofmann

Prosa & Politica


Um amigo telefona e anuncia que pretende vir a Porto Alegre com a esposa. É a primeira vez que visita Porto Alegre e pede que eu planeje o que deve ver. Começo a estudar um roteiro. Além da visita à área do Palácio Piratini, Assembléia Legislativa e Teatro São Pedro planejo levá-lo a visitar o Mercado Público Municipal, uma festa de cores, sons, sotaques gaúchos e cheiros de mate a granel, bacalhau, café e outras delícias. Lugar onde sempre levo estrangeiros em visita à cidade, construída num estilo que lembra a velha Les Halles de Paris. Europeus adoram.

Há também o conjunto de prédios históricos bem conservados da Praça da Alfândega, inclusive o velho prédio do finado Banco Nacional do Commercio (com dois "m" mesmo), hoje Centro Cultural Santander. 

Outro local interessante é o largo na frente da prefeitura, que hoje parece sempre estar ocupado por grupos exigindo qualquer coisa. Os mais assíduos são os membros de MST. Não se pode mais apreciar o belo prédio da prefeitura como quem consome um papo-de-anjo muito bem feito pelas doceiras de Pelotas.  

Antes de levar o visitante para outras partes da cidade, mais afastadas, eu normalmente o levaria para conhecer a Rua da Praia (oficialmente Rua dos Andrades). Normalmente quer dizer mais de vinte anos atrás. Nos meus anos de exílio em Santa Catarina e outras praças eu mesmo sempre vinha matar as saudades sempre que passava uns dias em Porto Alegre.

Tinha o comércio mais vistoso e elegante da cidade. Lojas finas, a livraria e editora Globo (não confundam com nada que seja da Globo dos Marinho), onde Érico Veríssimo trabalhou e teve seus trabalhos publicados e que publicara, entre outras coisas, a Coleção Nobel, que incluía a primeira tradução para o português brasileiro de "À Procura do Tempo Perdido" do Marcel Proust.

Nos tempos de estudantes costumávamos ir sexta-feira à tarde ou para a quadra da Livraria Kosmos ou para o Café Rian. Mais cedo ou mais tarde todas as pessoas que desejaríamos contatar passavam por ali. Ali marcávamos encontros com meninas para sábado ou churrascos com os amigos para domingo.

Pois bem, aquilo tudo não existe mais. Uma das conseqüências dos dezesseis anos do PT na prefeitura de Porto Alegre foi a invasão indiscriminada de camelôs na Rua da Praia. Olívio Dutra, Tarso Genro, Raul Pont e demais "canaille" protegeram este acontecimento. Sempre houve camelôs, em número relativamente discreto no centro de Porto Alegre. Seus gritos para atrair clientes eram até parte do charme do centro. Mas hoje dominam o cenário. E sua proliferação trouxe junto uma corja de assaltantes e trombadinhas, em tal número que chega a ser incontrolável.

O resultado foi o ocaso do comércio da Rua da Praia. Respeitáveis firmas de 50 ou 100 anos fecharam suas portas. Os camelôs não contribuíam com ICMS, nem pagavam INSS ou FGTS, adquiriam suas mercadorias num universo nebuloso, que vai desde o contrabando à mercadoria roubada, passando pela pirataria e indústrias que usam mão de obra quase escrava.

Os imóveis que ficavam vagos na Rua da Praia, endereço nobre, passaram a ser alugados por um comércio mais primitivo a aluguéis muito inferiores do que no passado. Ao fim do processo de substituição sumira a nossa Rua Augusta.

A prefeitura e o estado perderam receita de ICM. O imposto de renda passou a receber menos, pois os imóveis passaram a dar uma receita muito inferior, milhares de empregados do comércio perderam seus empregos e passaram a consumir menos o que também baixou de alguma forma os tributos que beneficiavam estado e município. Os camelôs ganharam?  Isto é relativo. Os fornecedores de mercadoria não-tributada lucraram. Os camelôs permanecem no nível de subsistência, mas não procuram outras atividades que poderiam alavancar seu progresso.

A rentável Rua da Praia hoje representa prejuízo. Enquanto uma cidade como Curitiba criava uma Rua das Flores, artificialmente, sob inspiração de Jaime Lerner, Porto Alegre que tinha um calçadão tradicional perdeu um cartão postal. Prejuízo líquido.

Mas é isto que ameaça o país inteiro. Ao superproteger e financiar pseudo sem-terras, índios, e outros grupos de pressão em troca de alguns votos o país abre mão de rendas substanciais dos negócios estabelecidos que são levados a fechar. Perdem-se ícones comerciais e industriais cujas marcas deixam de ter valor.  Devemos lembrar que marcas como Coca-Cola, McDonald, Pizza Hut, Microsoft ou IBM constam do balanço patrimonial das empresas avaliadas em bilhões de dólares.

Você hoje avalia em quanto o nome VARIG?  Quanto ele valia dez anos atrás?

Quando é que os políticos brasileiros vão escutar executivos calejados nas lides do comércio e proteger a galinha dos ovos de ouro em lugar de transformá-la em canja rala.  

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