Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, junho 20, 2008

Colunista tá se achando - Barbara Gancia




Folha de S. Paulo
20/6/2008

Qualquer um pode viver o seu dia de "Tássia", de rainha da cocada preta ou de bacana do bairro Peixoto

EU SOU A RAINHA da cocada preta, o fino da bossa, a bacanona do bairro Peixoto e a Vitória de Samotrácia do Itaim Bibi. Tudo isso e mais um pouco.
Ao menos, foi com essa bola toda que terminei de ler, na última terça-feira, ao e-mail enviado diretamente do gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, pela doutora Paulina do Carmo Arruda Vieira Duarte, secretária-adjunta da Senad (Secretaria Nacional Antidrogas).
Em sua gentil mensagem, que trazia anexo um convite para a cerimônia de abertura da 10ª Semana Nacional Antidrogas, a doutora Paulina dizia o seguinte: "Depois da publicação da sua coluna [que falava sobre a combinação de jovens, álcool e direção], o projeto de lei proibindo a venda de bebidas alcoólicas nas estradas, que havia sido derrubado pelo Senado, voltou à Câmara dos Deputados e foi aprovado. É uma vitória e tanto".
A cerimônia para a qual a doutora me convidou, ocorrida ontem em Brasília, contou com a presença do presidente da República, que aproveitou a ocasião para sancionar a lei de número 13/2008 proibindo a venda de bebidas alcoólicas nas rodovias federais.
Diga a verdade, nobre leitor: no meu lugar você também não estaria se sentindo o general da banda? Pois o e-mail da dra. Paulina mostra que o Congresso nem sempre age à revelia dos nossos anseios e que qualquer um pode ter seu dia de "Tássia" ou de rainha da cocada preta.
Nesse caso, foi a resposta dos leitores da Folha, identificados com o que escrevi, que acabou levando o Congresso a rever a decisão do Senado. Ou seja, sob pressão da opinião pública, eles dançam conforme a nossa música, sim senhor.
É preciso que a gente esteja atenta a isso para enfrentar as batalhas que virão. Continua a ser debatido no Congresso o projeto de lei que pretende mudar o conceito de bebida alcoólica no país, para efeitos de uso e propaganda. No e-mail que me enviou, a doutora Paulina contou que, ao longo da semana, iria participar de uma audiência pública com deputados a fim de discutir essa importante questão.
No último sábado, a festa junina do colégio Santa Cruz teve uma marca de cerveja entre seus patrocinadores. O pai de uma aluna, que não quis se identificar, disse que, a pedido dele, a filha comprou bebida sem problemas durante a festa.
Fazendo jus ao nome, o diretor de marketing da cerveja patrocinadora da festa, Marcel Sacco, que também tem filhos matriculados no Santa Cruz, mostrou-se enfastiado com a indignação dos pais.
Disse ele que a discussão da presença da cerveja na festa é "xiita" e questionou: "Será que também não é ruim o consumo de chocolate, de salgadinhos? Se a gente for dizer que paçoca faz mal porque é muito gordurosa, vamos entrar numa loucura sem fim".
Eu me pergunto como alguém que dirige um departamento de marketing pode usar de uma argumentação tão ordinária sobre o produto que promove. Será que o senhor Sacco desconhece as estatísticas dos acidentes de trânsito?
Será que ele nunca se dignou a ler algum estudo sobre o impacto do álcool nos jovens? É justamente para não sermos mais submetidos a esse tipo de raciocínio oportunista que a mobilização da turma do bom senso deve continuar. Adiante, doutora Paulina!

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