Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, junho 05, 2008

CLÓVIS ROSSI

Fatos e realidades
ROMA - Já não me lembro quem disse uma frase paradoxal como "há os fatos e há a realidade. Nem sempre coincidem". É mais ou menos isso que está acontecendo com o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre os biocombustíveis, o meio ambiente, a Amazônia.
O discurso do presidente, nessa área, tem sido articulado, com começo, meio e fim. Sobre a Amazônia, diz, por exemplo: "A região Norte, onde fica quase toda a floresta amazônica, tem apenas 21 mil hectares de cana, o equivalente a 0,3% da área total dos canaviais do Brasil. Ou seja, 99,7% da cana está a pelo menos 2.000 quilômetros da floresta amazônica".
Completa: "Isto é, a distância entre nossos canaviais e a Amazônia é a mesma que existe entre o Vaticano e o Kremlin".
É fato. Mas a realidade é que a devastação da Amazônia prossegue. E o mundo quer saber se vai ou não parar, independentemente da distância que separa as árvores dos canaviais e o Kremlin do Vaticano. Também é fato, como Lula gosta de repetir, que a União Européia só tem hoje 0,3% de sua mata original.
Logo, é também fato que não teria, digamos, autoridade moral para reclamar do desmatamento no Brasil. A realidade, porém, é que a devastação na Europa já ocorreu, ninguém reclamou àquela altura, não há nada mais o que se possa fazer e, hoje, quando a consciência ambiental é outra, os europeus e toda a torcida do Flamengo (menos o governador Blairo Maggi) reclamam do desmatamento na Amazônia.
O que há a fazer agora é evitar que outra realidade se transforme em fato. A realidade é que há um ruído internacional em torno da suposta (ou real) incapacidade dos brasileiros de tomarmos conta direitinho da Amazônia.
Ou o país demonstra essa capacidade ou o ruído acaba virando fato -e depois não adianta reclamar.

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