Entrevista:O Estado inteligente

sábado, maio 05, 2007

A terceira parte do relatório do clima: o que fazer?

Sim, ainda podemos
limpar a sujeira

Novo relatório da ONU diz que é possível
e não custa caro conter o aquecimento global


Rafael Corrêa

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Enfim, uma boa notícia a respeito do aquecimento global, que ameaça fugir inteiramente ao nosso controle. Ainda há tempo para conter o processo e evitar suas conseqüências mais catastróficas, como enchentes, secas, extinção de espécies, derretimento dos pólos e outros desastres naturais. A conclusão animadora é do terceiro relatório divulgado neste ano pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), criado pela ONU para buscar consenso internacional sobre o assunto. O primeiro relatório, divulgado em fevereiro deste ano, responsabilizou a atividade humana pelo aquecimento global e advertiu que, mantido o crescimento atual dos níveis de poluição da atmosfera, a temperatura média do planeta subirá 4 graus até o fim do século. O relatório seguinte, apresentado em abril, tratou do potencial catastrófico do fenômeno e concluiu que ele poderá provocar extinções em massa, elevação dos oceanos e devastação em áreas costeiras. A terceira parte do documento da ONU, divulgada na sexta-feira passada, propõe soluções.

Em linhas gerais, diz o seguinte: se o homem causou o problema, pode também resolvê-lo. E pode fazê-lo por um preço relativamente modesto -- pouco mais de 0,12% do produto interno bruto mundial por ano até 2030. Hoje, a concentração de gases do efeito estufa na atmosfera está em 425 partes por milhão (ppm). O gasto anual do PIB mundial é necessário para fazer com que os níveis de concentração desses gases nocivos se mantenham no máximo na faixa entre 445 e 535 ppm. O 0,12% do PIB mundial seria gasto tanto pelos governos, para financiar o desenvolvimento de tecnologias limpas, como pelos consumidores, que precisariam mudar alguns de seus hábitos. O IPCC calcula que um esforço internacional para tornar as casas e os edifícios mais eficientes do ponto de vista energético acarretaria um corte de 30% nas emissões de gases que eles hoje produzem. Isso seria conseguido com medidas simples, como substituir todas as lâmpadas incandescentes por fluorescentes, e outras que dependem de políticas públicas, como o abatimento no imposto de renda para pessoas que instalam painéis solares -- a exemplo do que já é feito nos Estados Unidos.

Os entusiastas de carros beberrões, como os utilitários esportivos, poderiam pagar impostos mais altos para financiar a compra de carros econômicos por parte de outros consumidores. "Agora, cabe a cada governo eleger os setores e as medidas que achar mais interessantes e viáveis economicamente. O que não se pode mais é ficar parado", diz Roberto Schaeffer, professor de planejamento energético da Coppe, órgão ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro, que participou da criação do terceiro relatório do IPCC.

O aquecimento global não será contido apenas com a publicação do terceiro relatório do IPCC e sua conclusão de que não sai tão caro reduzir as emissões de gases do efeito estufa. O documento é apenas um ponto de partida para balizar ações. Não há nele nenhuma cláusula que obrigue uma ou outra nação a tomar providências. Também não se deve tirar de sua leitura a conclusão de que é fácil controlar o efeito estufa. Para a obtenção de resultados significativos nos níveis de gases poluentes na atmosfera, o esforço de redução das emissões precisa ser global. O fracasso do Tratado de Kioto, ao qual os Estados Unidos, os maiores emissores de CO2 do mundo, não aderiram, ilustra os problemas colocados diante das tentativas de conter o aquecimento global.

UM GUIA PARA DIMINUIR OS DANOS

As medidas recomendadas pelo Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC), da ONU, em seu terceiro relatório para estabilizar os níveis de concentração de gases do efeito estufa na atmosfera

ENERGIA

• Aumentar o uso de energias renováveis para 30% a 35% da matriz energética. Hoje, elas representam somente 18%
• Considerar um aumento de 2 pontos porcentuais no uso de energia nuclear, passando de 16% de participação em 2005 para 18%
• Avançar no uso de tecnologias de captura e armazenamento de gases do efeito estufa nas usinas que utilizam combustíveis fósseis para produzir energia

PRÉDIOS

• Adotar a construção de mais prédios "verdes", que façam melhor uso de iluminação e ventilação naturais. Até 2030, isso pode diminuir em 30% as emissões de gases nocivos desse setor

INDÚSTRIA

• Incentivar a substituição de fábricas obsoletas e poluidoras por indústrias mais eficientes do ponto de vista energético

TRANSPORTE

• Expandir o uso de biocombustíveis para um porcentual entre 5% e 10% do combustível utilizado no planeta. Hoje, eles representam 1% do consumo mundial
• Estimular a adoção de tecnologias mais eficientes como carros híbridos e bicombustíveis

AGRICULTURA

• Diminuir as emissões de metano de algumas culturas, como a de arroz, e das criações de bovinos
• Restaurar áreas degradadas

FLORESTAS

• Combater o desmatamento. Metade do potencial de redução das emissões nos trópicos está na manutenção das florestas

LIXO

• Diminuir a produção de lixo e, ao mesmo tempo, aumentar a reciclagem
• Usar o lixo e seus subprodutos, como o gás metano, na geração de energia

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