É o que os executivos de Paraíso Tropical ouviriam
se fossem empregados numa empresa de verdade
Marcelo Marthe
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A novela Paraíso Tropical é uma espécie de prima pobre de The Office, o seriado inglês que satiriza a rotina de uma empresa. Não se trata do primeiro folhetim nacional a abordar o mundo dos negócios. Mas já se pode dizer que é aquele que se lançou com mais elã nessa tarefa. O noveleiro Gilberto Braga demonstra inclusive ter uma certa "agenda política" sobre o tema. À frente do Grupo Cavalcanti, a cadeia de hotéis que está no centro da história, encontra-se o personagem cafajeste e casca-grossa vivido por Tony Ramos – a intenção, segundo Braga, foi personificar um "empresário típico". Mas é no embate entre vilão e mocinho que a "mensagem" da novela fica mais explícita. Os remédios amargos da administração de uma empresa, como os cortes de pessoal, são identificados com o mau-caráter Olavo (Wagner Moura). O herói Daniel (Fábio Assunção), por sua vez, defende uma gestão mais "humana". Essa visão para lá de tolinha do ambiente corporativo passa também pelo gerente mimado Fred (Paulo Vilhena). Com ele, procura-se mostrar que possuir títulos e dominar teorias não são, por si sós, credenciais de um líder. Que um curso de MBA não substitui a prática, ninguém duvida. Mas daí a comprar um lote de uísque falsificado sem perceber que está sendo enrolado, só mesmo uma toupeira como o tal do Fred. Nesse The Office à brasileira, o humor, como se vê, é involuntário.
Noveleiros de longo currículo, Braga e o co-autor Ricardo Linhares não precisam ganhar o pão de cada dia numa baia de escritório. Tudo indica que adquiriram seu conhecimento da "cultura corporativa" de segunda mão, nos manuais de auto-ajuda para executivos, por exemplo. O jargão do ramo tem sido explorado fartamente. Olavo já falou em "remanejamento de pessoal" e "otimização de custos". Volta e meia, saem da boca dos personagens termos como "terceirização" e "custos operacionais". O palavrório não disfarça, contudo, a falta de familiaridade com esse universo, que fica patente naquelas reuniões de conselho administrativo cheias de pompa e solenidade.
No fim das contas, o ambiente corporativo de Paraíso Tropical tem mais graça quando desempenha apenas aquela função que sempre esteve reservada aos locais de trabalho nos folhetins: ser um pretexto para explorar relações de poder e permitir que os núcleos da trama se conectem. Mostrar o pessoal pegando no batente é o de menos. Entre uma reunião enfadonha e outra, vêm os "negócios" que interessam: o sexo e a intriga. Há uma secretária alcoviteira e outra que se joga em cima dos homens. E as cafajestices de alcova do personagem de Tony Ramos dão um novo sentido à expressão capitalista selvagem. Há dez dias, Antenor chegou atrasado a um encontro com clientes porque estava passeando de iate com a amante e ainda pediu licença para resolver um último assunto com Fabiana (Maria Fernanda Cândido) – dar-lhe mais uns amassos. "A doutora não deixa eu fechar um negócio sem examinarmos o contrato ponto por ponto", desculpou-se. No dia seguinte, depois de ser flagrado pela mulher, ele não titubeou em mandar Fabiana para a rua.
É o mesmo destino, aliás, que os executivos fajutos da novela mereceriam no mundo real. VEJA pediu ao empresário Roberto Justus, apresentador da gincana O Aprendiz, da Rede Record, que avaliasse os perfis do vilão e do mocinho. Ambos quebrariam a cara no programa. "Não se pode ser radicalmente negativo como o Olavo nem imaginar que a empresa é um clube de campo, como o Daniel", diz Justus. "Eu demitiria os dois."
Montagem sobre ilustração de Stefan
Com fotos de divulgação