Entrevista:O Estado inteligente

sábado, maio 05, 2007

O sucesso de Fernando Pimentel em BH

O PT que satisfaz

Fernando Pimentel, prefeito de Belo Horizonte, é
um dos melhores administradores públicos do país


José Edward

Fotos Nélio Rodrigues/1º Plano

Nem tudo vai de mal a pior na política brasileira. Uma nova geração de ocupantes de cargos públicos vem realizando, se não uma revolução, uma mudança profunda na maneira de gerir o dinheiro do contribuinte. O que isso significa? Basicamente duas coisas: em lugar de obrigações ditadas pelo compadrio, objetivos que visam ao bem comum. Em vez de bondades e desperdícios eleitoreiros, eficiência na arrecadação e responsabilidade no gasto. Um expoente dessa linhagem de bons gestores é o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Damata Pimentel, de 56 anos. Sob sua batuta, primeiro como secretário das Finanças e depois como prefeito, a receita municipal saltou de 800 milhões de reais para 3 bilhões de reais. A dívida da cidade, por sua vez, caiu de 40% para 20% da receita no mesmo período. Com tantos números positivos, um terço do orçamento de Belo Horizonte pôde ser direcionado para bancar programas que atendem crianças. As boas cifras se traduzem num índice impressionante: 90% da população da capital mineira aprova a administração de Pimentel. "O que faz diferença não é ter muito ou pouco dinheiro, mas contar com uma máquina pública azeitada", diz ele.

Por causa de seu desempenho, o prefeito se tornou a principal aposta de seu partido, o PT, para suceder ao tucano Aécio Neves no governo de Minas Gerais. Pimentel suplantou a densidade eleitoral de líderes históricos do petismo local. Entre eles, o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, que administra o Bolsa Família, o secretário-geral da Presidência da República, Luiz Dulci, e Nilmário Miranda, que foi candidato ao governo de Minas por duas vezes. Militante do partido desde sua fundação, Pimentel se dividia entre a gestão da rede de lojas de sua família, a Belorizonte Couros, e aulas de economia na Universidade Federal de Minas Gerais, quando, em 1993, Patrus Ananias, então prefeito, o convidou para a Secretaria de Finanças de Belo Horizonte. No cargo, Pimentel não demorou a mostrar a que veio, ao sanear as contas municipais – e o sucesso administrativo deu fôlego à sua carreira política, numa trajetória divergente daquilo que costuma ocorrer nas bandas da estrela vermelha.

O sucessor de Ananias, Célio de Castro, transformou Pimentel em seu homem forte e entregou-lhe a gestão das duas principais secretarias da prefeitura. Reeleito, Castro o fez vice-prefeito – para logo depois sofrer um derrame. A gestão do município foi entregue, então, de fato e de direito a Pimentel. Sem perder de vista os limites da responsabilidade fiscal, ele urbanizou favelas e tirou da gaveta obras que eram reclamadas havia décadas pela população, como as revitalizações do centro e da Lagoa da Pampulha. Também soube evitar a tentação sindicalista. Jamais concedeu uma audiência ao sindicato dos servidores da prefeitura e não teve medo de adotar medidas impopulares. Enquanto tentava a reeleição, em 2004, Pimentel comprou briga com os 2 500 camelôs que atuavam no centro. O prefeito pretendia transferi-los para shoppings populares. Com medo dos prejuízos nas urnas, seus correligionários o pressionaram a postergar a medida. Pimentel disse não. Atitudes como essa e a dureza com que trata a oposição lhe renderam acusações de autoritarismo – e a reeleição com 68,5% dos votos no primeiro turno.

Filho de um comerciante e de uma professora de música, Pimentel fez suas primeiras incursões na política no Colégio Estadual Central, um ninho de estudantes esquerdistas na década de 60. Em 1968, filiou-se ao Comando de Libertação Nacional (Colina), onde se tornou amigo da hoje ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. "Fernando era um sujeito objetivo e corajoso. Enfrentava qualquer parada", lembra ela. Nesse tempo, os dois eram tão próximos que os outros militantes do Colina achavam que eles formavam um casal. Ambos negam. Eles se perderam de vista no momento em que Pimentel aderiu à Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Na nova turma, ele passou a participar de ações armadas sob os codinomes Oscar, Chico e Jorge. Preso numa tentativa desastrada de seqüestrar o cônsul americano em Porto Alegre, passou três anos e meio na cadeia. Solto, estudou economia. Na universidade, conheceu sua mulher, a historiadora Thaís Cougo, com quem adotou os gêmeos Irene e Mathias. A amizade por Dilma, entretanto, permanece forte. Na intimidade, Pimentel a chama de "Dona Dilma".

A proximidade com a ministra e a atuação na prefeitura de Belo Horizonte levaram Lula a cogitar nomeá-lo ministro da Fazenda, em substituição a Antonio Palocci, o quebrador de sigilos bancários. Pimentel avisou que preferia receber convites apenas em 2009, quando não for mais prefeito. Ele não esconde que seu maior objetivo é suceder a Aécio. Como só é possível acontecer em Minas, até sonha com o apoio do tucano para levá-lo ao Palácio da Liberdade. Em troca, ajudaria o atual governador a chegar ao Planalto. Que os dois formam uma dupla sintonizada, não há dúvida. Eles chegam a combinar como aparecerão vestidos em compromissos comuns: se de terno ou em mangas de camisa. "O eleitor identifica na relação entre o petista e o tucano um sinal de civilidade política", diz o sociólogo Marcos Coimbra. Uma civilidade, em ambos os casos, com níveis de aprovação na casa dos 90%.



ARMADO SÓ DA CANETA

Em 1969 e 1970, Pimentel participou da luta armada. Foi preso tentando seqüestrar um cônsul americano. Solto, estudou economia (abaixo, em 1978). A amizade com Dilma (à dir.) é desse tempo. Já a parceria com Aécio Neves é bem mais recente – e, pelo jeito, tem um longo futuro


Fotos Arquivo Pessoal e Nélio Rodrigues/1º Plano

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