Entrevista:O Estado inteligente

sábado, maio 05, 2007

A dança de salão volta no embalo da televisão

Quer dançar comigo?

No ritmo da Dança dos Famosos da TV, aprendizes
de dançarinos movimentam os velhos salões de dança


Suzana Villaverde

Mirian Fichtner
Sala cheia em Porto Alegre: o número de praticantes cresceu 30%

Rodopiar ao som de uma valsa, deslizar com um bolero, chacoalhar ao ritmo da salsa – tudo isso soava tão antigo quanto senhoras de meia-idade trajando vestidos enfeitados com paetês e arrastando maridos emburrados nos passos tradicionais da dança de salão. Até que surgiu o quadro Dança dos Famosos, campeão de audiência dentro do Domingão do Faustão, na Globo, em que celebridades fazem par com profissionais e competem pelo troféu de melhor performance, numa reedição de concursos idênticos que igualmente levantam o ibope na Europa e nos Estados Unidos. Diante do efeito contagiante da dança – é parar na frente da televisão, ver aqueles casais eletrizados pelo ritmo e ter vontade imediata de sair rodopiando pela sala –, novas e inesperadas levas de alunos estão revivendo um velho fenômeno. "Sempre tive vontade de aprender a dançar, e esses programas de dança me deram o empurrão que faltava", diz a paulistana Adriana Abreu Muniz, de 24 anos, que faz aulas de samba-rock numa grande academia. "Faço ginástica para manter o corpo, mas não gosto. O que me dá prazer é dançar", acrescenta, resumindo as vantagens de uma atividade que confere graça, agilidade, domínio corporal e uma aura de sensualidade a seus praticantes.

Segundo Luís Florião, presidente da Associação Nacional de Dança de Salão (Andanças), o número de praticantes da modalidade cresceu 30% entre 2005 e 2006. Mais notável ainda é a invasão dos salões por jovens aprendizes. No último Congresso Internacional de Danças Brasileiras, no mês passado, 70% dos participantes tinham até 25 anos. "Com a divulgação da dança na mídia, o jovem está percebendo que quem não sabe dançar faz feio", provoca Florião. O estudante mineiro Márcio Infanti, de 17 anos, demorou mas acabou concordando com a tese. "Minha mãe já tinha convencido meu pai e meu irmão a fazer as aulas, e eles adoravam, não paravam de falar sobre o assunto. Eu achava cafona, coisa de gente mais velha. Resolvi ir um dia só para agradar ao resto da família e assim que cheguei percebi que a dança de salão era totalmente diferente do que eu imaginava. A aula é muito animada e reúne pessoas de idades diferentes, homens, mulheres, todo tipo de gente", diz ele, vencido. Márcio passou de aluno a monitor na escola de dança e agora ajuda seu professor a corrigir os iniciantes.

Nélio Rodrigues/1º Plano
Roberto Setton
Jovens e bem encaminhados: Márcio Infanti, de 17 anos, treina com os pais em Belo Horizonte (à esq.); Bárbara, de 15, ensaia com um colega, em São Paulo

Com apenas 13 anos, Gregory Lara Halla ainda não tem idade para entrar nas casas noturnas da capital gaúcha, onde mora, mas se preocupa com o futuro. "Não quero passar vergonha em alguma ocasião importante", diz ele, que faz aulas há um mês e não se limita aos ritmos preferidos na sua faixa etária – samba, forró e o caribenho zouk, uma espécie de lambada. Embora aprenda um pouco de tudo, Halla é fã do bolero, que pratica com as colegas de turma nos salões da Casa de Dança, em Porto Alegre. Também no grupo dos principiantes, a paulistana Bárbara Bugno Moral começou a treinar o dois-para-lá, dois-para-cá enquanto sonhava com a comemoração de seus 15 anos. "Queria uma festa que não fosse tradicional. Queria impressionar os convidados", conta ela, que escolheu o tema "tropical" e trocou a valsa por salsa. "Comecei as aulas cinco meses antes da festa. Dancei uma coreografia latina com um bailarino, como essas que passam na televisão. Todos os meus amigos ficaram surpresos", diz Bárbara. Foi também uma festa de 15 anos, de uma amiga, que motivou o gaúcho Leonardo Correa, de 18, a dar o passo seguinte. "Passei sufoco na hora da valsa. Não tinha condições de conduzir o meu par", lembra ele, que após dois anos e meio de treino já desfruta a nova habilidade para outros fins. "Toda mulher gosta de ser conduzida. Quando não sei direito o que falar, eu me garanto na dança", gaba-se.

A professora paulistana Karina Sabah, do tradicional Centro de Dança Jaime Arôxa, em São Paulo, afirma que até o mais premente obstáculo à atividade – a falta de pares masculinos para mulheres interessadas – foi amenizado com a divulgação da dança na televisão. "Os homens vêem seus ídolos, atletas, nessas competições e percebem que não existe problema algum em saber dançar", diz ela. Na esteira dos pés invisíveis do mercado já surgiu um novo profissional, o professor particular, quer dizer, personal dancer. "Meu horário está cheio, a ponto de ter de repassar alunos para outros professores", diz Philip Miha. "O personal dancer é o novo personal trainer", profetiza.

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