Entrevista:O Estado inteligente

sábado, maio 12, 2007

Miriam Leitão Financeiro & real

Miriam Leitão
Armínio Fraga acha que o Banco Central está, sim, sofrendo um ataque especulativo. “Um ataque positivo; é o dólar que está sendo atacado.” Armínio, que recentemente comprou participação em várias empresas da economia real, contou que continuará comprando, pois este é o momento, devido à queda dos juros. Disse que antes os investidores ficavam “estragados” pelos juros muito altos.

A Gávea Investimentos constituiu um fundo que tem comprado vários ativos na chamada economia real.

Comprou participações na operação do McDonald’s na América Latina, na CIE, que controla várias casas de espetáculo, em shoppings do Rio. Sempre minoritárias e sem participação na gestão.

Antes, já haviam comprado na área logística e Armínio acha que no agronegócio também tem oportunidades.

Será indício de um tempo novo em que o melhor negócio não será ficar vivendo dos juros pagos pelo g o v e rn o ? — Estou positivo com o Brasil. Não acho que o país vai crescer num ritmo asiático, mas está melhor que já foi. Antes, uma aplicação overnight rendia 20% no acumulado. Era, de certa forma, irresistível, e nós investidores éramos um pouco estragados — comenta ele.

Armínio lembra que hoje as taxas de juros futuras estão mais baixas que as de curto prazo, o que mostra a confiança de que os juros continuarão caindo.

Normalmente acontece o oposto, porque juros mais longos tendem a ser mais altos que os de curto prazo.

Perguntei a ele, na entrevista desta semana na Globonews, se isso era indicação de que os juros estão altos demais; fora do lugar, como muitos dizem no mercado.

Armínio concordou: — A inflação está abaixo da meta, e a curva de juros futuros está invertida. E os juros podem cair mais, se o país tiver disciplina macroeconômica e segurar os gastos públicos.

O dólar, na visão dele, também vai continuar c a i n d o .

— Hoje há um ataque especulativo, mas não é contra o real, e, sim, contra o dólar. Um ataque positivo.

O cenário mundial está tranqüilo e o balanço de pagamentos do Brasil muito folgado. Vai continuar entrando dólar, e isso é positivo.

Mas alguns setores vão ser prejudicados.

Ampliar a abertura para aumentar o volume de importações é uma bandeira que Armínio sempre defendeu, contudo ele acha que isso não pode ser feito para resolver o problema atual.

Acredita que, como o câmbio é flutuante, naturalmente vai se ajustar. Acha também que o Banco Central não está operando para defender um número, apesar de o BC ter sempre agido, nos últimos dias, para evitar que o dólar caia abaixo de R$ 2.

Luiz Carlos Mendonça de Barros, numa outra entrevista que fiz esta semana, afirmou que o Banco Central não vai conseguir segurar o dólar, e que o melhor a fazer é deixar de lado: — Deixa cair, deixa fazer um overshooting nessa queda e, depois, ele mesmo se reequilibra. O dólar não vai parar de entrar no Brasil. O risco-Brasil caiu muito, mais até do que o governo achou que cairia. Isso está provado na estrutura a termo da taxa de juros; eles estão caindo muito nos prazos mais longos.

Mendonça de Barros acha que os sinais dessa estabilidade estão em todos os indicadores, como os da BM&F, por exemplo: — Hoje se vende hedge de que a inflação vai estar em 3,8% a 4% nos próximos cinco, seis anos. O Brasil é o segundo país em papéis do maior fundo americano de renda fixa; papéis de 10 a 15 anos. Tudo mostra confiança do investidor no Brasil aqui e lá fora. Nossa grande fragilidade era externa; quando ela se resolveu, nós ficamos extremamente atrativos.

O Banco Central não vai agüentar segurar esse dólar acima de R$ 2.

Ele acredita que a política de acumular reservas pode acabar tendo um efeito oposto ao desejado.

— Quanto mais dólar, mais reserva; quanto mais reserva, menos risco; quanto menos risco, mais dólar.

Por isso, diz que o melhor a fazer é mesmo reduzir os juros, porque, com esse dólar baixo e a capacidade do país de importar, não há risco inflacionário.

Vendo assim, fica parecendo que o Brasil está uma maravilha. Mas o país está com uma coleção razoável de más notícias: a violência; a corrupção, a ausência de qualquer solução de longo prazo para nossos problemas estruturais. Perguntei a Armínio Fraga, na entrevista no Espaço Aberto, sobre essa contradição de um país que tem bons indicadores financeiros e de solvência, e péssimos sinais em outras áreas.

— O Brasil está melhor do que ele já foi no passado, no período inflacionário.

Para crescer mesmo, é preciso fazer duas coisas: educar e poupar. Isso pensando nas próximas décadas, não no curto prazo. Na década de 90, estabilizamos a economia e conseguimos levar as crianças para a escola.

Agora existe a necessidade de melhorar a qualidade.

Não sou especialista nisso, mas gostei das medidas anunciadas recentemente pelo governo na área da educação. Não acho que conseguiremos poupar como um país asiático, mas, quem sabe, conseguimos poupar como um Chile, 25% do PIB. Sou da tese de que, se o crescimento acelerar, a poupança vem a reboque — avaliou Armínio.

O ex-presidente do Banco Central disse que continuará comprando ativos no país. Ele comentou que a bolsa, que antes era pequena e vista como um cassino, hoje já foi percebida pelas empresas como uma boa fonte de captação: — Se tiverem boa governança, se fizerem as coisas direitinho, podem atrair capital para a empresa. A bolsa ficou mais alta, em parte, por isso. Está havendo um casamento entre o setor financeiro e o setor real.

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