Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, março 23, 2007

Você tem direito à cura - Zilda Arns




Folha de S. Paulo
23/3/2007

A tuberculose é a doença infecciosa que mais mata adultos no mundo. Lanço o desafio de assumirmos o compromisso de combatê-la

EXISTEM situações nas quais é preciso agir em conjunto para promover a saúde pública e erradicar doenças que podem matar. É o caso do combate ao mosquito da dengue, que não escolhe idade, sexo ou classe social para fazer vítimas. Há alguns anos, tínhamos a ameaça do sarampo e da poliomielite, que, com muito esforço, conseguimos vencer.
E existem as doenças que continuam esquecidas, porque aparentemente afetam somente os mais pobres, como é o caso da hanseníase e da tuberculose. É com grande constrangimento que vemos pessoas sofrerem com essas doenças, apesar de elas terem cura e o tratamento ser gratuito pelo SUS (Sistema Único de Saúde).
No dia 24 de março de 1882, o médico alemão Robert Koch informou ao mundo sobre o germe causador da tuberculose, o bacilo de Koch. Em comemoração à descoberta, 24 de março marca o dia mundial de combate à doença.
Conforme consta do Pacto Pela Saúde, um conjunto de diretrizes elaboradas e pactuadas de forma tripartite pelos Estados, municípios e União e aprovado pelo Ministério da Saúde, pelo Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems), pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conas) e pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS), o combate à tuberculose está entre as prioridades nacionais, por apresentar grande impacto sobre a situação de saúde da população.
A Pastoral da Criança está envolvida, com muita satisfação, no movimento nacional que luta contra a tuberculose. Esse grupo está organizado para melhorar a qualidade e aumentar a divulgação das informações sobre a doença, além de motivar a participação da comunidade e da sociedade civil organizada na luta para acabar com ela.
A tuberculose é a doença infecciosa que mais mata adultos no mundo. No Brasil, são cerca 6.000 pessoas por ano que chegam a óbito por causa dessa doença. De acordo com dados da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, no Brasil, são descobertos cerca de 85 mil novos casos de tuberculose todos os anos.
Os principais sintomas são tosse contínua com catarro por mais de 15 dias, febre ao entardecer, suores noturnos, falta de apetite, emagrecimento e cansaço. Além do pulmão, ela também pode afetar ossos, rins, coração e meninges.
A pessoa com esses sintomas deve procurar uma consulta no serviço de saúde mais próximo. O médico pode pedir uma radiografia do tórax e o exame do escarro (baciloscopia) para confirmar se a pessoa está com a doença. Pelo Sistema Único de Saúde, a consulta, os exames e o medicamento são gratuitos.
A pessoa com a doença no pulmão elimina a bactéria no ar e, por isso, pode infectar quem está mais próximo.
As chances de transmissão são maiores entre as pessoas da família e nos ambientes fechados e pouco ventilados. O doente, ao tossir ou espirrar, deve ter o cuidado de proteger a boca e o nariz. Recomenda-se aos familiares das pessoas com tuberculose que visitem o serviço de saúde para uma consulta médica preventiva.
A tuberculose tem cura, desde que seja tratada corretamente. Após constatada a doença, o médico deve recomendar ao paciente a medicação, que pode ser obtida em qualquer posto de saúde. O tratamento dura cerca de seis meses e só deve ser interrompido com a autorização médica.
Mulheres grávidas também devem ser tratadas, mas elas têm o direito de tirar todas as suas dúvidas e saber sobre os possíveis efeitos do medicamento sobre o bebê.
A vacina BCG, aplicada durante o primeiro mês de vida da criança, previne as formas mais graves da tuberculose. Outro meio de prevenir é identificar as pessoas com os sintomas da tuberculose e encaminhá-las rapidamente ao sistema de saúde. O tratamento precoce diminui as chances de transmissão.
Lanço o desafio de assumirmos juntos o compromisso de combater a tuberculose e o preconceito em nossas famílias e nas organizações de que fazemos parte.
Vamos orientar as pessoas sobre os sintomas e sobre a necessidade de procurar o serviço de saúde. Também podemos atuar com os conselhos municipais de saúde para incluir o combate à tuberculose como uma das prioridades nas políticas públicas dos municípios.

ZILDA ARNS, 72, médica pediatra e sanitarista, é fundadora e coordenadora da Pastoral da Criança e da Pastoral da Pessoa Idosa, conselheira do Conselho Nacional de Saúde e no Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional.

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