As raízes do atraso
Oscar Cabral |
Giambiagi: artigo recusado por VEJA em 1988. Ele agradece |
O resultado do PIB de 2006 divulgado na semana passada mostrou que FHC e Lula empataram em mediocridade em seus primeiros mandatos, com 2,6% de crescimento médio anual da economia. Uma vez mais, nas análises do resultado foram ignoradas as raízes do desempenho aquém do que exige um país emergente e crivado de problemas sociais como o Brasil. Muito se falou de juros e câmbio (sintomas) e quase nada de paternalismo, corporativismo, privilégios, inchaço do Estado, da insuportável carga de impostos. Não se tocou na questão dos labirintos burocráticos, da camisa-de-força das leis trabalhistas dos tempos do fascismo... Enfim, mais uma vez foram preservadas as "vacas sagradas do atraso", como se refere o economista Fabio Giambiagi às barreiras reais que impedem a aceleração do progresso social e econômico do Brasil.
Por falar em Giambiagi, será lançado nesta quinta-feira um livro definitivo de sua autoria sobre as razões pelas quais a economia brasileira patina eternamente em taxas pedestres de crescimento. O título do livro é Brasil: Raízes do Atraso – Paternalismo versus Produtividade. VEJA teve acesso antecipado a um exemplar e o comenta na reportagem sobre o PIB, que começa na página 52. Na apresentação do livro, Giambiagi faz uma menção à revista que muito nos honra.
O economista conta que VEJA recusou em 1988 um artigo escrito por ele a quatro mãos com um colega. No artigo, Giambiagi – nas palavras dele, "formado na heterodoxia, jovem mestre, com a ousadia própria dos 20 e poucos anos..." – rebatia enfaticamente uma reportagem de capa da revista. Nela, o economista liberal Mario Henrique Simonsen (1935-1997) prenunciava em 1987 a falência do Estado e o sofrimento por que passariam todos os brasileiros em decorrência da farra de gastos e direitos sem deveres que a Constituição de 1988 instituiria.
Escreveu Giambiagi no novo livro: "Para o bem da minha biografia, a revista recusou-se a publicar o artigo – diante do qual hoje eu provavelmente coraria de vergonha. Simonsen estava corretíssimo nas suas apreciações". Como preconizava o patrono moderno de sua profissão, John Maynard Keynes (1883-1946), Giambiagi mudou suas convicções acadêmicas conforme mudou a realidade. VEJA não precisou mudá-las.