Entrevista:O Estado inteligente

quarta-feira, março 14, 2007

Projeto de país


EDITORIAL
O Globo
14/3/2007

No que parece ser a contagem regressiva para a tão adiada reforma do Ministério, vale fazer a pergunta: qual o país que está em construção? O momento em que nomes passam pela avaliação presidencial para assumir o primeiro escalão do governo justifica uma reflexão em torno do projeto o qual ministros escolhidos no amplo arco de apoio parlamentar ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva terão a responsabilidade de executar.

Se depender de Lula, os próximos três anos, oito meses e quinze dias serão de crescimento econômico sustentado e justiça social. Cresceremos e distribuiremos renda ao mesmo tempo. Um tempo de bonança, sob os auspícios do Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC. Que assim seja. Infelizmente, entre as boas intenções e a realidade há quase sempre um caminho acidentado.

Nos últimos dias dois colunistas do jornal "Valor", José Roberto Mendonça de Barros e Fabio Giambiagi, economistas, ao abordar a conjuntura brasileira e analisar cenários futuros, contribuíram para a discussão desse tema crucial: qual país queremos, qual país teremos?

À pergunta se o Brasil merece ter um grande futuro, Giambiagi responde que outros países, como Índia, China e Chile, por exemplo, fazem um dever de casa do qual insistimos em passar ao largo. Em vez de privilegiar o investimento em educação e infra-estrutura, o Brasil optou pelo gasto corrente (previdência, assistencialismo). Décadas de investimento na formação de cérebros fazem da Índia um dos líderes na produção de programas para computador e em outros segmentos de alta tecnologia. O Chile, lembra o economista, executa um plano pelo qual todos os adolescentes precisam concluir o segundo grau dominando o inglês. Já a educação básica brasileira é a que se sabe.

Outro aspecto deste modelo nacional que privilegia a doação de dinheiro público a pessoas - geralmente idosas - e relega a plano inferior a educação dos jovens e a infra-estrutura é que, segundo Mendonça de Barros, a coleta de impostos cresce mais que a produção. Um fato é decorrência do outro. Da mesma forma, o consumo cresce mais que a indústria de transformação, que se encontra bloqueada pela carga tributária. Os prognósticos não são, portanto, os melhores, apesar do costumeiro otimismo no discurso oficial. A esperança está no aprofundamento desse debate sobre qual país está em efetiva construção.

Até agora, trata-se de um Brasil de crescimento relativamente baixo, onde empresas e assalariados sustentam um Estado obeso e dono de uma grande clientela de pobres que não estudam nem trabalham. Vivem da esmola oficial.

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