Entrevista:O Estado inteligente

sábado, março 03, 2007

O azarão francês


A inesperada subida nas pesquisas de um terceiro candidato, François Bayrou, esquenta as eleições francesas


Antonio Ribeiro, de Paris

Vincent Kessler/Reuters
François Bayrou em campanha: tirando votos da socialista Ségolène Royal

O deputado François Bayrou, candidato do partido centrista UDF, tornou-se a grande surpresa da eleição presidencial francesa do próximo mês. Até seu recente salto de 6% para 19% nas intenções de voto, uma final entre o candidato de centro-direita Nicolas Sarkozy e a socialista Ségolène Royal – 32% e 25% respectivamente – eram favas contadas. As pesquisas revelam uma inesperada perspectiva: Bayrou venceria, no segundo turno, contra qualquer candidato. O sucesso de Bayrou, ex-ministro da Educação, ocorre sobretudo à custa de Ségolène e das propostas socialistas de um Estado gastador e com impostos elevados. Desta vez, pelo menos, a surpresa é do bem. Em 2002, o xenófobo Jean-Marie Le Pen ultrapassou o socialista Leonel Jospin na reta final. Felizmente, no segundo turno Le Pen foi surrado nas urnas por Jacques Chirac.

Bayrou oferece o que chama de "social-economia", um tipo de pacto entre a esquerda e a direita para promover reformas para combater o desemprego e o déficit público. Sua campanha martela propostas consensuais. Quer tornar inconstitucionais os empréstimos para financiar despesas de custeio do governo. O Estado só poderia gastar o que arrecada. Ninguém é contra, pelo menos até a hora da aplicação efetiva da medida. Na França, um adulto em cada nove está desempregado. Bayrou propõe algumas válvulas de escape no mercado de trabalho engessado por uma legislação rígida. Um exemplo é aumentar o valor das horas extras e deduzir o acréscimo dos impostos pagos pelo empregador. O que o candidato pretende desmontar, sem causar alarde, é uma peculiaridade francesa, a jornada semanal de 35 horas.

O maior desafio de Bayrou é chegar ao segundo turno. Professor de origem rural e modesta, ele lidera um partido cuja base eleitoral é curta demais para impulsioná-lo à Presidência da República. Para chegar lá, ele precisa atrair eleitores de tendências opostas. Por isso, ora parece mais de esquerda, ora mais de direita, pulando tanto que ganhou o apelido de cabrito. "Quero um governo de competências, não de ideologias, o meu primeiro-ministro pode sair da direita moderada ou da esquerda moderna", disse Bayrou a VEJA. A dívida pública francesa é abissal: 1,1 trilhão de euros, metade do PIB nacional. O crescimento do PIB é tão anêmico quanto o brasileiro – 2% em 2006. O quadro sombrio é resultado de 26 anos dos governos de François Mitterrand e Jacques Chirac. Embora de correntes políticas diferentes, os últimos presidentes franceses foram semelhantes em dois aspectos: na aversão por reformas econômicas liberais e no gosto pelo imobilismo. O maior risco de Bayrou é o eleitor perceber que, pulando da direita para a esquerda, e vice-versa, o cabrito se movimenta, mas os problemas permanecem do mesmo tamanho. Sua esperança, em outras palavras, é que, no segundo turno, os franceses o escolham como a opção menos ruim.

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