PANORAMA ECONÔMICO |
O Globo |
23/3/2007 |
O IBGE fez o certo ao rever a metodologia do PIB. Novas mudanças precisam ser feitas. Mas é infantil a reação do governo de comemorar como se fosse uma partida de futebol. É apenas aperfeiçoamento estatístico. Não está nada bem um país que cresce pouco há tanto tempo, que tem uma taxa de investimento pífio. O que houve foi apenas uma melhora do instrumento de medição. Outras mudanças são necessárias. O economista Francisco Lopes vinha alertando, há tempos, sobre os erros da medição do PIB. Num seminário organizado pelo ex-ministro Bresser Pereira, em 2005, ele mostrou que as mudanças aumentariam o PIB em torno de 0,5 a 1 ponto percentual. E disse textualmente, na análise que distribuiu, que havia erros. "A conclusão é que a medida do PIB no Brasil tem atualmente graves deficiências." Um dos defeitos apontados era exatamente usar, na apuração de parte do PIB de serviços, o crescimento populacional, como se fosse a melhor representação da renda real. Uma conseqüência disso era subestimar o crescimento; outra, não mostrar as quedas. "São raríssimos, por exemplo, os períodos de variação negativa do PIB na série histórica brasileira. Como contrapartida, porém, a metodologia do IBGE subestima sistematicamente o crescimento do PIB nos períodos de expansão da atividade." Escreveu Francisco Lopes na época. Ele deu exemplos de momentos, em 1995 e 2001, nos quais a indústria chegou a cair 5% ou 6%, num determinado trimestre, e o PIB não caía. - É óbvio que o PIB estava medido errado quando, por exemplo, era usada a extrapolação por crescimento populacional na falta dos dados reais de renda. Pelos cálculos que faço há tempos, vinha sustentando que existia uma subestimação de 0,5 ponto a 1 ponto percentual de crescimento do PIB - afirmou. Esta é apenas a primeira etapa de um processo que deve levar a mais aperfeiçoamentos, para mostrar, com mais precisão, o que está acontecendo na economia brasileira. - O cálculo do PIB no Brasil ainda é tosco. Há dados que, dessazonalizados, a soma das partes dá mais de 100%. Acho que o IBGE tem que ser mais aberto à academia, ouvir mais os economistas e especialistas. Acho que o governo tem que investir mais no IBGE, com melhorias de salários e investimento mesmo. Não é um assunto trivial como um Fla x Flu, como foi tratado: de um lado, ministros do governo dizendo que agora estamos no G-8 ou coisa que o valha; de outro, a oposição levantando suspeitas porque os números do governo FHC caíram. A revisão dos dados de 2000 em diante tem mais chance de acerto que a dos anteriores. É que foram introduzidas pesquisas anuais na revisão dos números que passaram a existir a partir de 2000. Para o passado, foi feito um cálculo aproximado. Ou seja, o dado do passado tem um grau de arbitrariedade maior que o dos anos mais recentes. Um fato preocupante que saiu da revisão é que a taxa de investimento ficou mais realista, e aí se viu que ela é totalmente insuficiente para garantir o crescimento sustentado. Caiu por um ajuste que ajuda mesmo a aumentar a clareza do indicador: aumentou o peso dos bens de capital e caiu o de construção residencial. Se o número mais perto do real é 16%, fica mais clara a necessidade de investimento. O mais importante a partir destes novos números é a seriedade na avaliação: não é porque a dívida/PIB ficará menor, que ela deixa de ser alta; não é o fato de cair o número de gasto com saúde que faz com que o governo tenha que aumentar imediatamente esse gasto. A Saúde, por força da lei que estabeleceu percentuais do PIB e formas de correção, está aumentando sua participação no bolo orçamentário em detrimento de outras despesas. Nem por isso, teve melhoras; ao contrário. Falta incentivo para buscar eficiência no gasto, já que é reajustado todo ano. Não é pelo fato de termos possivelmente passado a Coréia que nos tornamos um tigre asiático. Não é porque a carga tributária fica menor, diante de um PIB maior, que os impostos deixaram de ser excessivos. Todo cálculo de PIB é arbitrário, toda conversão disso em moeda estrangeira depende da taxa de câmbio. Ou seja, o dólar baixo, que irrita os exportadores, é que torna nosso PIB maior em dólar. Mas o Brasil não fica mais rico por isso, e nem de longe se aproxima de um país como a Coréia na área mais fundamental para o crescimento sustentado: a qualidade da educação. Um pouco de sobriedade faria bem a todos os que apressadamente começaram a reagir, com triunfalismo, a essa pequena mudança no PIB. As alterações vão melhorar a qualidade das análises feitas daqui para frente. - Os economistas ficam discutindo política econômica supondo que os dados estão corretos, e há claras imperfeições nos dados - comenta Lopes. Portanto investimento no IBGE pode significar maior precisão e acerto das políticas públicas. O que está em jogo não é mais uma rodada da interminável briga do governo Lula contra o fantasma do governo FHC. Nem pode ser visto como um milagre estatístico para reduzir as cobranças sobre o governo. É apenas estatística. E ela é ferramenta para as decisões. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, março 23, 2007
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