Entrevista:O Estado inteligente

sábado, março 10, 2007

MILLÔR

Não me esqueço do grande intelectual Fernando Henrique Cardoso, no passado.
Sempre colocando is nos nossos pingos.

ALGUMAS NOHTAS FISCAIS

Humor? Caras de bom senso, bons pais de família, respeitadores de todos os princípios, obrigados por assaltante a tirar a roupa e ficar nus dentro do ônibus.

Isso é humor. Em qualquer país, negro. Aqui, normal.

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Por que a sociedade obriga o comparecimento de um juiz em todo casamento? É por saber que, mais cedo ou mais tarde, aquilo vai dar em encrenca.

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Só conheço uma verdade: mentimos sem parar.

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Bons tempos os do triângulo amoroso. O mínimo, hoje, em matéria de prevaricação, é um decálogo, mais conhecido como suruba.

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Um recém-nascido é a prova de que, apesar de tudo isso que vocês fazem com ela, a natureza ainda não desistiu do ser humano.

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As lições de economia entram por um bolso e saem pelo outro.

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Entreouvido no Hospício: "Meu filho está cada dia pior, coitado. Antes achava que era Napoleão. Agora pensa que é o Lula".

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Vocês podem não concordar, mas acho que o Lula fala quase tanta besteira quanto o Fernando Henrique. Só que este não apenas fala, escreve-AS. O que é Cultura, senão a ampliação da nossa ignorância? Exemplo: você pega, como eu peguei, O Universo numa Casca de Noz, do gênio Stephen Hawking (astrofísica, evolução estelar, cosmologia matemática, buracos negros, big bangs, espaço-tempo, bota aí), e lê, com calma e reflexão, 10 páginas por dia. Quando acaba você verifica que ampliou em 10% o seu conhecimento sobre tudo isso. E ampliou em 90% a sua ignorância sobre tudo isso. Isso é cultura.

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Antes que eu me esqueça. O Universo numa Casca de Noz deve ser consultado imediatamente por designers. A facilidade e a riqueza de recursos dos programas de computação fizeram com que, sem maior talento gráfico, qualquer idiota se considere um gênio. E mesmo os não idiotas acabam ficando idiotas. O Universo numa Casca de Noz é uma extraordinária lição de design.

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Bem, a cultura não serve de nada a não ser que você aprenda a tirar partido a cada passo dela no dia-a-dia. Por exemplo, eu, à tarde, quando volto pro meu estúdio, em meio às árvores, passo sempre pelo edifício Pablo Picasso, grudado ao edifício Marcel Proust, logo o edifício Sigaud, em frente do edifício Jacques Cousteau.

Acontece que eu sei quem (mal, mas sei) foi Sigaud, eu sei, como você todos sabem, quem foi Cousteau, o mergulhador de Deus, sobre quem eu li enorme artigo na The Paris Review, mostrando o ditador que era quando fazia suas pesquisas no fundo do mar.

Também conheço Proust, aliás, de trás pra frente – em português, francês e inglês. Sem falar que quem nunca leu o livro de George Painter sobre Proust nunca leu uma biografia de verdade.

E também conheço muito bem Pablo Picasso, a prova de que não se pode julgar um artista pelo caráter. E que, natimorto, foi salvo por um tio, espanhol meio maluco que, vendo o nascituro desenganado pelos médicos, puxou fundo a fumaça do charuto que fumava e meteu toda a fumaça boca do feto adentro. Salvou-o. Vá você ser contra o fumo!

Essa história está na biografia escrita por Norman Mailer – que eu também sei quem é.

Perguntem ao Lula.

Se ele não souber, perguntem ao Fernando Henrique.

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