O Globo |
16/3/2007 |
A revista "Veja" comunicou outro dia ao seu leitorado que não mais escreverá "estado" com inicial maiúscula quando estiver falando da nação politicamente organizada. É um ato de brava rebeldia contra o Houaiss e o Aurélio. Ninguém tem nada com isso (ressalva indispensável exatamente quando a gente se prepara para se meter na vida alheia). Em geral, os dicionários sabem mais do que a gente, mas o idioma e seus usos não são estáticos: às vezes, a voz do povo descobre caminhos que os lexicógrafos levam anos para pôr no mapa. De qualquer maneira, a rebelião hebdomadária serve como pretexto para uma discussãozinha sobre a inicial maiúscula, essa desconhecida. Para que mesmo a usamos? Para designar, diz o dicionário "nomes com que se nomeiam individualmente os seres - pessoas, nações, povoações, montes, mares..." É importante, mesmo que óbvia, lembrar essa definição. Ela ajuda a desmontar o velho conceito de que a letra grande seria indicação de status: para autores antigos ou desatualizados, a "Verdade", por exemplo, só teria sua nobreza reconhecida quando grafada com a inicial maiúscula. Já se usou muito a inicial maiúscula com essa função. Dizem que na oratória baiana de tempos passados dava para se ouvir as letras grandes. Algumas eram ensurdecedoras. Hoje em dia, quem escreve direito sabe que a importância de cada termo é conseqüência inseparável e única de seu significado. O porte da inicial, tanto quanto o talhe da letra, não é qualquer indicação de relevância. Tamanho realmente não é documento. Até aí, a decisão revolucionária da revista parece fazer sentido: ao contrário do que muitos pensaram e legiões escreveram, a fé remove montanhas com a mesma facilidade que a Fé afasta pedrinhas. Mas, sem falar nos chamados nomes próprios, a inicial maiúscula pode ter uma serventia especial. É precisamente o caso de "Estado", quando se trata da organização política que preside a nação. Nessa acepção, os dicionaristas nos pedem que usemos a inicial maiúscula não como indicação de status, mas para ajudar a compreensão. Assim mostramos que falamos da organização política que preside a nação, não de uma condição ou situação, nem de uma unidade federativa. E preservar a diferença tem utilidade especial nesse caso, particularmente em texto jornalístico, onde freqüentemente convivem - e até se enfrentam - o Estado e os estados. Fica mais fácil entender a informação quando a inicial indica exatamente do que estamos falando. Acho, mesmo sem autoridade para isso (confesso que tenho de ir ao dicionário para saber o que quer dizer mesmo "lexicógrafo"), que "Veja" errou. Com boa intenção também se pisa na bola. É pena. Se estou certo, a decisão da revista não merece imitação: terá sido bala perdida no bom combate contra o uso abusivo de letras grandes pomposas e cheias de si. |
Entrevista:O Estado inteligente
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sexta-feira, março 16, 2007
Luiz Garcia - O estado do Estado e dos estados
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