Entrevista:O Estado inteligente

sábado, março 24, 2007

JOSÉ MÁRCIO CAMARGO As boas e as más notícias do PIB

Os novos dados mostram que as reformas que já foram implementadas começam a apresentar seus resultados

A REVISÃO DOS números de variação do PIB e de seus componentes trouxe boas e más notícias para o crescimento futuro do país. As boas notícias estão relacionadas ao fato de que o país cresceu 10,9% mais do que na estimativa anterior. Como resultado, o grau de endividamento do Estado brasileiro em relação ao total de riqueza gerada no país (a relação dívida/PIB) caiu de 51,5% para 46,5%, e a carga tributária diminuiu de 37,4% para 33,7% do PIB no final de 2005.
Ainda entre as notícias positivas destaca-se o aumento da produtividade dos fatores de produção, na medida em que a contabilidade do uso de recursos (capital e trabalho) não mudou e o produto gerado aumentou. Aliás, os baixos ganhos de produtividade desde meados dos anos 90 eram um dos mistérios da economia brasileira. Após a abertura comercial e financeira, privatizações de setores de utilidade pública (telecomunicações, energia etc.), reformas microeconômicas como a nova lei de falências, o patrimônio de afetação, reforma do Judiciário, crédito consignado etc., era uma surpresa que o crescimento da produtividade não tivesse reagido de forma positiva. Os novos dados mostram que isso efetivamente ocorreu e que podemos esperar novos ganhos no futuro.
As más notícias começam pela verificação de que o país continua mais fechado do que muitos de nossos empresários imaginam, e do que os consumidores gostariam, pois a relação entre exportações mais importações e PIB caiu com os novos números. Entretanto talvez o fator mais negativo seja a queda nas taxas de investimento e poupança. Enquanto na medição anterior a taxa de investimento média entre 2000 e 2005 era estimada em 19,5%, pelos novos números essa taxa média foi reduzida a 16,3%, ou seja, uma queda de três pontos de porcentagem.
Com base nas taxas de crescimento do PIB e do investimento no período de 2000 a 2005, podemos calcular o que chamamos de produtividade do investimento, ou seja, quanto do PIB é necessário investir para gerar 1% de taxa de crescimento do PIB (a relação marginal capital/produto). Tomando as médias desse período (3,0% e 16,3%, respectivamente) e dividindo uma pela outra, chegamos à conclusão de que, para que o país consiga crescer 1%, terá que investir 5,4% do PIB. O que significou uma importante mudança em relação ao cenário anterior, em que os dados mostravam que era necessário investir 8% do PIB para crescer 1%. Porém como esses números se comparam ao de países similares ao Brasil?
Tomando uma amostra de 12 países emergentes, nos quais se incluem África do Sul, Argentina, Chile, China, Coréia do Sul, Hungria, Índia, México, Polônia, República Tcheca, Rússia e Turquia, para o período 1995-2005, a taxa média de investimento desses países foi de 23,2% de seus PIBs, enquanto a relação marginal capital/produto média para esses países foi de 5,8. Ou seja, enquanto pelos números antigos a taxa de investimento média do Brasil entre 2000 e 2005 era 84% da média desses países, pelos números atuais nossa taxa de investimento é de apenas 70% da média desses países. Por outro lado, com o aumento da produtividade dos investimentos, nos igualamos à média desses países nessa variável. Se, por um lado, ganhamos com o aumento da produtividade dos investimentos, por outro, perdemos com a redução dos mesmos. Como a taxa de crescimento futura depende basicamente desses dois fatores (e da produtividade do trabalho), as conseqüências dessa revisão para o crescimento futuro da economia são dúbias.
Entretanto um ponto deve ser destacado. A taxa de investimento no Brasil é muito baixa, se comparada às de países similares, o que sugere que temos ainda um longo caminho a percorrer no que se refere à melhora do ambiente de negócios no país por meio de reformas microeconômicas que ainda faltam ou ficaram incompletas. Os novos dados do PIB mostram que as reformas que já foram implementadas já começam a apresentar seus resultados sob a forma de ganhos de produtividade. Liberar os editais de concessão de rodovias e portos à iniciativa privada e agilizar o processo de constituição das Parcerias Público-Privadas são dois mecanismos que, ao facilitarem o investimento privado em infra-estrutura, teriam o efeito de aumentar a taxa de investimento e sua produtividade e, dessa forma, atingir taxas de crescimento bem mais elevadas do que as que obtivemos no passado recente.


JOSÉ MÁRCIO CAMARGO é professor do Departamento de Economia da PUC/Rio e sócio da Tendências Consultoria Integrada.

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