Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, março 15, 2007

Exportação das fábricas vai a zero



Artigo - Vinicius Torres Freire
Folha de S. Paulo
15/3/2007

Ritmo de crescimento das vendas de manufaturados foi à casa de 1% em fevereiro. Há dois anos, crescia a 28%

AS VENDAS das fábricas brasileiras para outros países regrediram ao nível do ano maligno de 2002, quando o país perdeu quase todo o crédito, inclusive parte do crédito para exportar. Para ser mais preciso, o ritmo de crescimento da quantidade de bens manufaturados chegou a 1,7% em fevereiro, no acumulado de 12 meses, conta feita a partir dos dados revelados ontem pela Funcex. Entre janeiro e outubro de 2002, o quantum de exportações de manufaturados regredia.
Voltaria a crescer 2% no mês da eleição. A indústria voltará ao zero?
A quantidade total de bens exportados cresceu 3,6% em 12 meses, graças ao aumento da venda de produtos básicos (7,34%). Há dois anos, cresciam a 20%. As vendas externas de bens de consumo duráveis estão no vermelho desde junho de 2006; em fevereiro, acumulavam regressão de 12%. Duráveis: automóveis, eletrodomésticos, eletrônicos.
O aumento da quantidade de bens importados cresce ao ritmo de quase 18% em 12 meses; no caso dos bens duráveis, corre a 71%.
O preconceito contra o empresário industrial, durante anos beneficiário de seu lobby por proteção tarifária, pela política ineficiente do fechamento comercial, tornou quase impossível discutir de modo ponderado os problemas que podem advir do enfraquecimento do comércio exterior da indústria. Para piorar, a visão em geral simplista dos industriais a respeito do câmbio ajuda a desacreditar suas queixas e críticas.
Por fim, o saldo da balança comercial, ainda na casa dos US$ 40 bilhões, parece tornar irrelevante tal debate. Mas o saldo comercial tem se sustentado devido ao aumento do preço dos produtos básicos que o país exporta e do barateamento dos importados. Isto é, os termos de troca são favoráveis ao Brasil.
Mas, além do fato de os termos de troca serem instáveis, a redução da quantidade de produtos industriais exportados tem impacto direto na expansão do investimento e do emprego industrial. E a queda nas exportações não se deve à restrição de oferta, ao fato de o país vender menos por não ter capacidade produtiva -há ociosidade na indústria.
O efeito do barateamento de máquinas importadas no aumento da produtividade industrial ainda é incerto. Por ora, não está acontecendo nada de excepcional com a taxa de investimento. Cresce de modo semelhante às de outras retomadas cíclicas (e medíocres) da economia, embora mais rápido que o PIB.
Além do mais, o custo menor dos bens de capital não é o único fator na determinação do investimento em máquinas. O investimento depende da expectativa de lucro, por sua vez condicionada pelo crescimento esperado da economia e da rentabilidade da atividade industrial. A rentabilidade também depende do preço dos bens produzidos, os quais podem ser achatados pelo câmbio.
Gasto excessivo do governo, impostos demais, infra-estrutura de menos, pouca pesquisa em tecnologia e excessos na política monetária são os fatores que prejudicam a eficiência média da indústria. Mas estamos a discutir tolices como intervenção no câmbio ou ministérios do PMDB. Nessa toada, é possível até que as máquinas da indústria do álcool venham a ser produzidas na China, daqui a alguns anos.

vinit@uol.com.br

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