Entrevista:O Estado inteligente

domingo, março 04, 2007

Está provada a farsa Sul-Sul de Celso Amorim

Por Reinaldo Azevedo
Reportagem no Estadão de hoje (ler abaixo) informa que o Itamaraty manterá a tal política de relações Sul-Sul, que privilegia os países sul-americanos e em desenvolvimento. É pura bobagem. As oportunidades de negócios que se anunciam (ver abaixo) com o simples aceno do EUA aos Brasil no acordo do etanol dão conta do que é e do que não é relevante. Houvesse um mínimo de racionalidade nas análises, e seria o caso de afirmar: a vinda de Bush ao Brasil para discutir um acordo sobre energia humilha a política externa do sr. Celso Amorim, chanceler brasileiro. É a evidência de que ele sempre esteve errado. É a prova provada de quais são as relações que realmente interessam ao Brasil.
Bush, o guerreiro, o pária moral da esquerda internacional, a besta-fera do humanismo de pé quebrado, pode estar dando, com efeito, um importante passo para que o mundo diminua a sua dependência do petróleo. Mas, para que isso aconteça, é preciso que o etanol seja uma commodity, que esteja regulamentado, que haja volume de produção suficiente para fazer estoques — se o petróleo está sujeito à instabilidade política, o álcool pode estar sujeito à da natureza (mais imprevisível do que a guerra). Quem tem alcance e envergadura para uma regulamentação em escala planetária? Os EUA.
A tal política Sul-Sul vai mostrando, assim, o seu raquitismo. Os petistas, que torciam tanto por Al Gore e depois por John Kerry, poderão ter em Bush a sua tábua de salvação. Olhem que não é pouca coisa. Observo à margem que o gordoto Al Gore, se presidente dos EUA, talvez não buscasse dar tal alcance prático a um programa ambicioso como esse do etanol. A razão é simples: tem mais vocação para prosélito. Acho que ele não será presidente dos EUA — a menos que renuncie a “seu” filme. Sem discurso politicamente correto, Bush, o pato manco, dá um passo fundamental, a se confirmarem os prognósticos, para que o Ocidente dependa menos da boa vontade ou da chantagem de “estranhos”. Lula, é claro, vai privatizar o “etanol”, chamá-lo de conquista sua, “nunca antes nestepaiz etc...”. Ok. Sabemos que é mentira. Um dia nos deixa em paz. O importante é o Brasil negociar direito.
E aqui mora o perigo — ou o meu temor ao menos. O Brasil não pode pensar o seu futuro como um mero fornecedor de cana — ou de álcool — para tocar a riqueza dos países industrializados. A demanda pelo produto será certamente crescente. E cumpre que se faça planejamento estratégico para saber como entramos nessa nova fase. O apelo que vem do Norte é sedutor, convidativo, irresistível mesmo. O Brasil está nessa parceria com os EUA. Não pode fugir dela nem que quisesse.
Ninguém estava preparado exatamente, é visível, para essa investida americana. Os baixos índices de popularidade de George Bush devem tê-lo apressado a dar início a essa cruzada pelo etanol. E aí mora o perigo: a pressa colhe o governo brasileiro quando Lula ainda falava das virtudes da mamona...


Itamaraty mantém aposta no eixo Sul-Sul como pilar da política externa

O Estado de S. Paulo

Renovação da relação com EUA não vai abalar prioridade dada a vizinhos e outros países em desenvolvimento

Denise Chrispim Marin

O acordo de cooperação em biocombustíveis, que os presidentes George W. Bush e Luiz Inácio Lula da Silva assinarão sexta-feira, em São Paulo, será o pilar da 'renovação' da relação Brasil-Estados Unidos. Mas essa mudança - supostamente para melhor - não significará a inflexão da política externa do governo Lula, concentrada nas relações com os vizinhos sul-americanos e os demais países em desenvolvimento. Embora admita um relacionamento 'íntimo' entre o Brasil e os EUA, o chanceler Celso Amorim avisa que a cooperação Sul-Sul continuará no topo da agenda internacional de Brasília.

Com esse enfoque diplomático, Lula receberá Bush na sexta e viajará no fim do mês para visitá-lo em Camp David, residência de campo presidencial, a 100 quilômetros de Washington. A programação dos dois encontros, espaçados em apenas três semanas, foi preservada num claro sinal do interesse de americanos e brasileiros de rever o morno relacionamento bilateral dos últimos seis anos.

Adormecida em alguma gaveta da Casa Branca, a proposta de cooperação na área de biocombustíveis fora apresentada por Lula em sua visita a Bush, em 2003. Agora, tornou-se uma espécie de bóia em alto-mar. A parceria permitirá ao Brasil ver construído, na prática, um mercado consumidor permanente de biocombustíveis e de motores flex fuel no mundo e a liberalização gradual desse protegidíssimo setor em longo prazo. Ou seja, a inclusão real dos biocombustíveis na matriz energética mundial.

A parceria atrai especialmente o Brasil por um aspecto capaz de preservar a altivez do governo Lula na relação bilateral: o grau de igualdade no desenvolvimento da tecnologia da produção do etanol e na pesquisa sobre celulose como matéria-prima. 'A cooperação na área abre novo paradigma para as relações bilaterais. Nesse campo, EUA e Brasil estão em condições paritárias', resumiu o subsecretário-geral de Assuntos Políticos do Itamaraty, Everton Vargas.

Vitalizada pelo desafio lançado por Bush, de reduzir a dependência de seu país dos combustíveis fósseis, e pela necessidade de reforçar sua liderança na América Latina, a iniciativa trouxe dois benefícios adicionais aos EUA. O primeiro, a sedução do governo brasileiro para uma relação mais madura e diversificada. O segundo, a inclusão do Brasil entre as nações menos vulneráveis à influência da Venezuela de Hugo Chávez na América do Sul.

Neste momento, interessa particularmente ao governo brasileiro tal diferenciação. 'O Brasil pode oferecer sua postura de nação democrática, respeitadora da imprensa livre, com uma agenda social importante e uma política externa criticada por alguns setores, mas respeitada inclusive nos Estados Unidos', assinala Amorim.


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