Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, março 08, 2007

Clóvis Rossi - Uma bala de açúcar




Folha de S. Paulo
8/3/2007

SÃO PAULO - A visita que o presidente George Walker Bush inicia hoje ao Brasil mais a viagem que seu colega Luiz Inácio Lula da Silva fará dia 31 aos Estados Unidos representam um desmentido, pelos fatos, à teoria de que há um viés anti-norte-americano na política externa brasileira. O fato é que a troca de visitas apenas confirma que raras vezes, talvez nunca (diria Lula), as relações Estados Unidos-Brasil estivem em tão bom nível.
De todo modo, a viagem de Bush acabará tendo um sabor agridoce. Doce porque o memorando de entendimento sobre cooperação no campo do etanol é "a mais positiva agenda que os Estados Unidos adotaram na região em décadas", como escreve, para o jornal canadense "Globe and Mail", a brasileira Annette Hester, especialista no mercado de energia, baseada em Calgary (Canadá).
Mas ela própria introduz um "porém": "O diabo está nos detalhes e, a menos que Washington esteja pronto para realmente cooperar, toda a iniciativa poderia ser um tiro pela culatra".
Completa Pedro de Camargo Neto, talvez o brasileiro com mais experiência em negociações comerciais sobre agricultura, tanto no setor privado como no público: "A agenda da visita inclui muita coisa interessante, mas exclui o essencial: a liberalização do comércio do etanol nas Américas" (leia-se: a eliminação da sobretaxa imposta pelos Estados Unidos).
Enquanto o diabo dos detalhes não se explicita, Lula pode até dar-se ao luxo de cenas explícitas de megalomania, como gosta: há anos, vem pregando a propagação do etanol como a melhor forma de ajudar países pobres, e não só na América Latina/Caribe.
Agora que Bush parece ter subido ao carro, o programa pode vir a ser no futuro uma bala de açúcar apontada ao coração de Hugo Chávez e seus petrodólares.




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