Entrevista:O Estado inteligente

domingo, março 04, 2007

CLÓVIS ROSSI Perguntas singelas

SÃO PAULO - Na quinta-feira, o repórter Raphael Gomide relatou como as forças brasileiras a serviço das Nações Unidas ocuparam "Bois Neuf, região de Cité Soleil, favela mais violenta do país e principal reduto das gangues criminosas da capital haitiana".
No dia seguinte, o ombudsman desta Folha, o notável jornalista que é Marcelo Beraba, fazia o que ele próprio batizava de "pergunta singela", a saber. Se forças brasileiras são capazes de tomar bastião de gangues no Haiti, "por que não conseguem tomar um só bastião de gangues no Rio?".
Alguém se anima a responder?
Aliás, há mais uma pergunta "singela" a ser feita a partir das operações das tropas brasileiras no Haiti: se servem para trabalho de polícia no Caribe, por que não servem para o trabalho de polícia no próprio Brasil?
Não estou sugerindo nada, mas queria entender. Afinal, um dos argumentos, talvez o principal, para o veto ao uso de tropas como polícia é o suposto (ou real) despreparo delas para atuar em um marco que é de guerra, sim, mas não é de guerra regular, o terreno do Exército.
Não há diferença substancial entre a situação no Haiti e em certas áreas do Brasil. Há diferenças de escala (a deterioração do Estado é mais profunda lá, mas não menospreze a capacidade de o Brasil piorar). No mais, o que se dá no Haiti é que as forças brasileiras não enfrentam um Exército regular, não atuam em campos de batalha delimitados longe de áreas civis e enfrentam delinqüentes que não precisam ocupar o poder para fazer seus negócios.
Vale para o Haiti, vale para todos os "bastiões de gangues" espalhados pelo país, inclusive nas áreas de fronteira, o novo "faroeste" conforme se viu em estudo divulgado esta semana.
Pena que o Brasil se recuse a fazer-se perguntas "singelas". Imagine então as complexas.

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