Entrevista:O Estado inteligente

domingo, março 11, 2007

CELSO MING Mal dos outros

O presidente Lula entendeu rapidamente que um dos segredos para o sucesso eleitoral (e político) é garantir inflação baixa.

Três outros países latino-americanos enfrentam ou poderão enfrentar problemas políticos porque não podem apresentar igual sucesso. Lula sabe disso.

Na Argentina, o presidente Néstor Kirchner teve a mesma intuição de Lula. Concluiu que uma das precondições para vencer em outubro é mostrar serviço na área da inflação. Mas escolheu um caminho duvidoso.

Lá os preços estão controlados por decreto. No ano passado, a inflação foi, oficialmente, de 9,8%, mas ninguém acredita, não só pelo represamento dos preços, mas também porque pesam denúncias de manipulação. Em janeiro, a ministra da Economia, Felisa Miceli, demitiu a diretora responsável pelas pesquisas de preços e impôs novas formas para calcular as mensalidades dos planos de saúde. A dúvida agora é como os formadores de preços farão os reajustes se as estatísticas oficiais estão sob suspeição.

Na Venezuela, a disparada das despesas públicas empurrou a inflação de 2006 para 17%. A principal conseqüência do tabelamento também adotado por lá é o sumiço de alimentos das gôndolas dos supermercados. Chávez, é claro, acusa os Estados Unidos de orquestrar o desabastecimento, com objetivo de desestabilizar seu governo. Apesar do controle dos preços, a inflação de janeiro saltou 2% e aponta para 1,4% em fevereiro, o que acumularia um total de 20,4% em 12 meses.

Para evitar que mais dólares gerados com exportações de petróleo sejam trocados por moeda nacional e causem mais inflação, o governo adotou a dolarização parcial da economia, o corte de três zeros na moeda nacional (o peso) e impôs metodologia “mais moderna” para avaliar a inflação. Por enquanto, Chávez tem fortes recursos políticos porque a oposição abandonou o Congresso, que acaba de aprovar a Lei Habilitante, que permite que ele governe por decreto. Mas a inflação pode corroer essa hegemonia.

No México, o conservador Felipe Calderón arrebatou, em julho, a presidência da República no olho mecânico (diferença de apenas 240 mil votos em 41 milhões). Para agravar sua situação, a inflação, até agora tão comportada, sofreu uma estocada em área vital, gerada nos Estados Unidos. A decisão do governo americano de incentivar a produção de etanol provocou a disparada dos preços do milho, a partir do qual se obtém o produto. De setembro de 2006 até agora, as cotações saltaram nada menos que 61% na Bolsa de Chicago.

O alimento básico no México é a tortilla, pão de farinha de milho. Seus preços saltaram de 3,5 pesos por quilo para 15 pesos. Em janeiro, Calderón renegociou com produtores e moinhos o preço-base de 8,5 pesos. Em janeiro, o governo mexicano negociou fornecimento extra de milho americano para garantir preços e o abastecimento, o que irritou os produtores internos, que se sentiram lesados. A população vem reagindo com manifestações contra o governo que vêm sendo denominadas revolta da tortilla.

O presidente Lula reconheceu no ano passado que um dos principais cabos eleitorais que garantiram sua vitória foi a política de combate à inflação liderada pelo Banco Central. A partir do que acontece na Argentina, na Venezuela e no México, imaginem agora o que ele deve estar dizendo para o PT e para alguns de seus ministros, que não param de atacar a formação de um superávit primário e a política antiinflacionária do Banco Central.

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