Universidades: autonomia não é autocracia
Há pessoas indignadas, é claro, com o que escrevi sobre as universidades. Outros me mandam quase tratados sobre o que seria o “verdadeiro problema” — às vezes, no plural — da área, não tocados por mim, nesse meu desvio direitista, sim, sim, sei... O que ninguém é capaz de me dizer é por que a universidade tem de ser “pública e gratuita” independentemente de sua clientela. Não entendi se terceiro grau gratuito é:
a) direito natural;
b) política social;
c) investimento público.
Direito natural, numa rápida vista d’olhos pelo conceito, não é. Política social, a julgar pelos principais beneficiários da mamata, também não. Quanto a ser um investimento do país, bem, aí seria preciso verificar o que efetivamente o Brasil está ganhando com isso. Vamos ver quanto de dinheiro nos custa o serviço em comparação com o que a universidade brasileira tem rendido em:
a) pesquisa;
b) atendimento às necessidades dos brasileiros.
Exigimos, com razão, eficiência de todo mundo, especialmente dos políticos. Por que não exigir também das universidades? Autonomia, sim, todo apoio. Autocracia, não.
Volto, a propósito, à observação que fiz sobre o R$ 1,2 bilhão que a USP tem em caixa, investido, certamente, no mercado financeiro — espero no mínimo isso, não? Só faltava o dinheiro estar parado. É verdade: universidades do mundo inteiro investem o seu dinheiro. São doações, no mais das vezes, que recebem de particulares. Não ficam estocando verba do orçamento público, que sai também do bolso dos que nunca botarão o pé num curso de medicina ou de direito. Os reitores se comportaram muito mal em chorar uma miséria que, definitivamente, não têm.
O episódio da universidade expõe um dado dramático da cultura política brasileira: todo mundo quer a democracia, desde que seja no quintal alheio. O que foi que o governador Serra pediu de tão grave a estes senhores? Que exponham os seus gastos, que os tornem públicos. Por que a universidade não quer ser submetida ao mesmo escrutínio das outras esferas da República?
Porque está com a boca torta. É mais uma das heranças invertidas do regime militar. Chamo de “herança invertida” certa disposição de fazer o rigoroso contrário de tudo o que se fazia durante a ditadura, ainda que esse contrário seja uma estupidez.
Temos aí a Constituição de 1988. Como a esquerda havia decretado que o regime militar era de exclusão, então saiu por aí “incluindo” direitos, sem nem querer saber de onde viriam os recursos. Deu no que deu. Como a autonomia universitária foi pra cucuia durante a ditadura, ao ser restabelecida, confundiu-se a dita-cuja com autocracia. Ela quer a grana pública e quer dar uma banana para os mecanismos de transparência nos gastos. E nem me venham com a história de que já prestam contas a este ou àquele tribunais. O governo federal tem o TCU, mas tem também o Siafi. Do que as universidades têm medo?
Essa história foi sendo meticulosamente plantada na mídia, numa escalada. Agora, os “aloprados” do PT querem greve. Se sou Serra, exponho todos os números das universidades estaduais num site especialmente criado para isso, mostro o quanto custa o serviço a cada paulista que nem sabe onde ficam USP, Unesp e Unicamp e digo aos reitores um sonoro: “Virem-se”.
Não sem antes tentar votar na Assembléia — será que isso é possível? Não sei — uma lei que atrele o repasse de recursos à existência efetiva de aulas. Vale dizer: sem aula, sem grana. Quem paga tem a preferência. O público paga. Pode, por meio dos poderes constituídos, exigir que o serviço seja prestado.
a) direito natural;
b) política social;
c) investimento público.
Direito natural, numa rápida vista d’olhos pelo conceito, não é. Política social, a julgar pelos principais beneficiários da mamata, também não. Quanto a ser um investimento do país, bem, aí seria preciso verificar o que efetivamente o Brasil está ganhando com isso. Vamos ver quanto de dinheiro nos custa o serviço em comparação com o que a universidade brasileira tem rendido em:
a) pesquisa;
b) atendimento às necessidades dos brasileiros.
Exigimos, com razão, eficiência de todo mundo, especialmente dos políticos. Por que não exigir também das universidades? Autonomia, sim, todo apoio. Autocracia, não.
Volto, a propósito, à observação que fiz sobre o R$ 1,2 bilhão que a USP tem em caixa, investido, certamente, no mercado financeiro — espero no mínimo isso, não? Só faltava o dinheiro estar parado. É verdade: universidades do mundo inteiro investem o seu dinheiro. São doações, no mais das vezes, que recebem de particulares. Não ficam estocando verba do orçamento público, que sai também do bolso dos que nunca botarão o pé num curso de medicina ou de direito. Os reitores se comportaram muito mal em chorar uma miséria que, definitivamente, não têm.
O episódio da universidade expõe um dado dramático da cultura política brasileira: todo mundo quer a democracia, desde que seja no quintal alheio. O que foi que o governador Serra pediu de tão grave a estes senhores? Que exponham os seus gastos, que os tornem públicos. Por que a universidade não quer ser submetida ao mesmo escrutínio das outras esferas da República?
Porque está com a boca torta. É mais uma das heranças invertidas do regime militar. Chamo de “herança invertida” certa disposição de fazer o rigoroso contrário de tudo o que se fazia durante a ditadura, ainda que esse contrário seja uma estupidez.
Temos aí a Constituição de 1988. Como a esquerda havia decretado que o regime militar era de exclusão, então saiu por aí “incluindo” direitos, sem nem querer saber de onde viriam os recursos. Deu no que deu. Como a autonomia universitária foi pra cucuia durante a ditadura, ao ser restabelecida, confundiu-se a dita-cuja com autocracia. Ela quer a grana pública e quer dar uma banana para os mecanismos de transparência nos gastos. E nem me venham com a história de que já prestam contas a este ou àquele tribunais. O governo federal tem o TCU, mas tem também o Siafi. Do que as universidades têm medo?
Essa história foi sendo meticulosamente plantada na mídia, numa escalada. Agora, os “aloprados” do PT querem greve. Se sou Serra, exponho todos os números das universidades estaduais num site especialmente criado para isso, mostro o quanto custa o serviço a cada paulista que nem sabe onde ficam USP, Unesp e Unicamp e digo aos reitores um sonoro: “Virem-se”.
Não sem antes tentar votar na Assembléia — será que isso é possível? Não sei — uma lei que atrele o repasse de recursos à existência efetiva de aulas. Vale dizer: sem aula, sem grana. Quem paga tem a preferência. O público paga. Pode, por meio dos poderes constituídos, exigir que o serviço seja prestado.