Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Barbárie Por Reinaldo Azevedo

Barbárie
Criança morta e sua mãe: fragmento de Guernica, de Picasso


Faustino
Começo convidando quem não leu a ler o texto que postei sobre a poesia de Mário Faustino em Avesso do Avesso, com link aí do lado.
Civilização e horror
Faustino era o oposto disso tudo. Seus textos tinham séculos, milênios até, de civilização concentrada. Estamos assolados pela barbárie. Em Brasília, São Paulo, Rio, em toda parte. O assassinato do garoto João Hélio Fernandes Vieites tem, sim, explicação, embora possamos resistir bravamente a ela. A primeira, a mais básica: existem pessoas que são más, razão por que têm de ser afastadas do convívio social, sem qualquer regalia que elas próprias não concederiam a gente de bem, já que nem mesmo lhes dão o direito à vida. Nessa hora, os humanistas indagam: “Mas gente normal faz isso?” Sim, faz. Gente normal e perversa.
A segunda explicação, não em ordem de importância, é a impunidade. Os caras que mataram João, com alguma má sorte, pegam 30 anos de cadeia. Com um sexto da pena cumprida — já que os poetas do direito brasileiro são contra a categoria do crime hediondo —, podem ter direito ao regime semi-aberto. Um facínora pode arrastar uma criança de 8 anos pelas ruas, presa a um automóvel, espalhar sua massa encefálica pelo caminho e ser solto depois de cinco anos — isso se não pegar pena menor. No futuro, suponho, todo brasileiro nascerá com direito a ter pelo menos um cadáver na sua biografia. Começaremos a pensar em punição depois do segundo. Na prática, já é assim.
Lula disse mais de uma vez que esses bandidos foram crianças carentes. É mesmo? A origem social da violência é uma mentira evidenciada pela matemática. Imagine se pobreza predispusesse à violência. Estaríamos fritos. Corto a mão se, em números relativos, não for até maior o número de bandidos que têm origem na classe média. É bem possível que seja mais fácil uma família abastada fazer um monstro moral, dado a laxismo da educação moderna, do que um pobre. Mata-se, sem qualquer hesitação ou piedade, porque a lei protege os criminosos.
Acompanhei, com um pouco asco, o noticiário das televisões. Havia certa inclinação óbvia para acusar a falta de policiamento. Não há policia que consiga coibir um acontecimento como esse, o que não quer dizer que ela seja eficiente no Rio. Mas isso está fora de qualquer parâmetro. E, atenção!, a situação não será revertido facilmente. Além da impunidade, há também a glorificação da chamada “cultura da periferia” nos programas de TV, no jornalismo, na propaganda oficial. A ordem se tornou inimiga. Os bandidos aprenderam a falar a linguagem do vitimismo. João não vai nem mesmo render um filme, financiado pela Petrobras, com incentivo da Lei Rounet.
Fique atento, leitor amigo: sempre que, no cinema, na TV ou em qualquer lugar, algum imbecil assumir o papel de juiz, apontando para você o dedo, acusando-o de ser culpado pela miséria e pela violência do Brasil, extraindo poesia da violência dos excluídos, cuspa nesse vagabundo. Ele não merece o seu respeito. Ele é um atentado à sua segurança e à de sua família. Ele é cúmplice de assassinos. E não custa lembrar: as maiores vítimas dos bandidos ainda são os pobres.


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