Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, fevereiro 06, 2007

O Haiti e aquis - Plínio Fraga




Folha de S. Paulo
6/2/2007

A miséria humana não só aniquila os sentidos como parece irreversível. A frase de George Packer, jornalista da "New Yorker", faz parte de seu relato aterrador sobre a vida de 15 milhões de pessoas que habitam Lagos, na Nigéria, em artigo publicado na revista "Piauí". "Os visitantes da cidade não são recebidos com as palavras "Bem-vindo a Lagos", e sim com "Isto é Lagos", uma sinistra constatação factual", escreve ele.
Seis milhões e meio de brasileiros vivem em favelas, se aceito como critério o acesso ao saneamento e a precariedade de moradia. O economista André Urani sugere que a qualidade de vida é impossível em cidades com mais de 7 milhões de habitantes. Ou seja, não basta impedir o inchaço, mas seria necessário reduzir o número de habitantes. A pergunta é: como?
O jornalista Howell Raines, ex-diretor de Redação do "New York Times", passou férias no Rio, impressionou-se com o tamanho da favela da Rocinha e perguntou a um brasileiro: "O que vocês pretendem fazer com aquela gente?".
É a pergunta feita muitas vezes ao urbanista Sérgio Magalhães, que conhece mais de 150 favelas cariocas como criador do programa Favela-Bairro, de reformas urbanas. Sua resposta: "Integrar à cidade".
Desde o ano passado, Magalhães começou a trabalhar em Bel Air, um dos bairros mais pobres de Porto Príncipe, no Haiti. As dificuldades são ainda mais gigantescas do que no Brasil. Não se limitam a questões econômicas, já difíceis de solucionar. "Não é que falte água lá. Água não existe", exemplifica.
O urbanista recebeu a sugestão de escrever sobre suas experiências no Rio e em Porto Príncipe em um livro que nasce com o título pronto: "O Haiti e Aqui". Pode chegar a duas constatações: lá é infinitamente pior, mas aqui as coisas ainda podem agravar-se mais.

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