A nova cara velha do Parlamento Com os métodos e os adesistas de sempre na oposição, o governo consegue eleger os presidentes da Câmara e do Senado Otávio Cabral Lula Marques/Folha Imagem | Beto Barata/AE | O petista Arlindo Chinaglia e o peemedebista Renan Calheiros vão comandar o Congresso Nacional nos próximos dois anos | O senador Renan Calheiros, do PMDB de Alagoas, e o deputado Arlindo Chinaglia, do PT de São Paulo, foram eleitos na semana passada para comandar o Congresso pelos próximos dois anos. Ambos têm pela frente o desafio de tentar resgatar a imagem do Parlamento, mutilada na última legislatura por sucessivos escândalos de corrupção. Não será muito fácil, a julgar pelo que se viu durante o processo eleitoral. PT e PMDB, os dois maiores partidos do Congresso, formam o que se costuma chamar de base de sustentação política do governo. Para obter maioria e conseguir eleger os presidentes, os dois partidos precisaram se juntar a outras siglas menores. A conquista desses apoios está na gênese de todos os problemas que corroem a credibilidade do Parlamento. Não se discutem projetos, não há debate de idéias, não se sabe claramente sequer o que cada candidato pensa sobre os assuntos que realmente importam. Para atrair o voto de deputados e senadores, prometem-se cargos, vantagens e verbas públicas. Na eleição de Renan e Arlindo Chinaglia, não foi diferente. Travou-se uma disputa em que, no final, levou vantagem quem tinha mais a oferecer. Arlindo Chinaglia utilizou em sua campanha bem-sucedida a mesma máquina do PT que inventou e colocou em prática o mensalão. Sua estratégia de campanha foi bolada pelo ex-ministro José Dirceu, cassado e apontado como chefe dos mensaleiros, que sonha agora com a anistia. Aliás, os temas do discurso de Chinaglia foram escolhidos por ninguém menos que João Paulo Cunha, ex-presidente da Câmara e expoente do mensalão, e Ricardo Berzoini, um dos "aloprados" da compra do dossiê contra os tucanos. Assim que o resultado foi proclamado, Chinaglia foi abraçado pelo ex-deputado mensaleiro Professor Luizinho e recebeu um beijo do mais novo aliado do governo, o ex-prefeito Paulo Maluf. Como se vê, o novo presidente da Câmara tem um séquito de ex-alguma-coisa-comprometedora entre as pessoas que o cercam. Já Renan Calheiros, que se elegeu com facilidade, teve o apoio declarado até do senador Fernando Collor, ex-presidente da República que sofreu impeachment, de quem foi fiel escudeiro no passado. O estilo agressivo dos petistas em conquistar apoio mostrou-se até alguns minutos antes da eleição. O subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência, Marcos Lima, passou o dia recebendo deputados no gabinete da liderança do PT na Câmara. Ele é o responsável pela liberação de emendas do Orçamento, cargo que herdou de Waldomiro Diniz, aquele que cobrava 1% de propina. Lima só voltou ao Palácio do Planalto, onde deveria dar expediente, após uma reclamação formal do candidato Aldo Rebelo ao ministro Tarso Genro, seu chefe, que fingiu que de nada sabia. Àquela altura, porém, muito já havia acontecido. Deputados novatos que tinham acabado de tomar posse puderam falar das necessidades de suas regiões e ouvir promessas de que não serão esquecidos pelo governo. Deputados antigos que já sabem como isso funciona tinham conversas mais objetivas. O recém-criado Partido Republicano, o ex-PL mensaleiro, recebeu a promessa de controlar todos os escritórios do DNIT nos estados. O governo Lula foi o grande vitorioso. Além de conseguir eleger para a presidência da Câmara um petista amigo e para o Senado um peemedebista dócil, o governo ainda rachou o pouco que havia de oposição no Congresso. O deputado Gustavo Fruet, do PSDB, que defendia a bandeira da ética e da moralização do Parlamento, ficou em terceiro lugar. Seus votos foram decisivos no segundo turno para a vitória de Chinaglia sobre o comunista Aldo Rebelo. O voto é secreto, mas é elementar deduzir que os tucanos, a suposta maior força de oposição ao governo, decidiram a eleição a favor do petista Chinaglia. "Não entendo a lógica desse jogo. Somos um partido de oposição e deveríamos ter apoiado o Aldo, que é o candidato menos governista. Não sei o que está por trás, mas o carimbo que ficou foi que nós ajudamos o governo e elegemos o Chinaglia", resumiu o deputado Luiz Carlos Hauly, do PSDB do Paraná. Não há nada de misterioso no que aconteceu. Os tucanos, como todos os demais parlamentares, têm seus interesses. Alguns a longo prazo, alguns imediatos. Na semana passada, bastou a Arlindo Chinaglia oferecer o cargo de vice-presidente ao tucano Narcio Rodrigues, um aliado do governador de Minas, Aécio Neves, para atrair a simpatia de uma parte da bancada tucana. Com a outra parte, ele ficou de conversar depois. |