Entrevista:O Estado inteligente

sábado, fevereiro 10, 2007

DORA KRAMER Lenda Urbana

Dia sim, outro também, alguma notícia se publica a respeito da reforma do ministério: seja sob a forma de relatos de bastidor com informações “em off” de assessores presidenciais, seja por meio de declarações de partidos aliados ou mesmo entrevistas formais de auxiliares de Luiz Inácio da Silva.

O próprio, porém, em pessoa, ao vivo, não deu uma palavra sobre o tema. Quando perguntado, o presidente sai pela tangente, aborda genericamente o assunto, mas não faz afirmações incisivas. Todas as datas marcadas e os sucessivos adiamentos anunciados resultaram de versões.

Temos, portanto, quase uma lenda urbana a ocupar diariamente o noticiário político sem que se saiba ao certo se o presidente da República considera realmente fundamental mudar o ministério para administrar o País nos próximos quatro anos, ou se vai levando essa história em banho-maria só para manter acesa a expectativa dos partidos que o apóiam (11 no total) e alimentar, com isso, uma fidelidade baseada na suposição de que aos pacientes está reservado o reino do céu.

A dúvida evidentemente será dirimida em algum momento, mas, enquanto isso não acontece, Lula vem dando um show na arte da prestidigitação: ocupa a cena principal com o seu PAC, os ministros ficam em segundo plano, distantes da capacidade de julgamento geral sobre o desempenho de cada um, e os partidos inquietos, mas contidos pela lógica do fisiologismo presumido, a cada dia ouvem - sempre por interpostas pessoas - uma desculpa diferente.

Primeiro, era preciso deixar passar a eleição para ter o mapa da força de cada um no Congresso. Nesta versão, o ministério sairia nos primeiros 15 dias de dezembro. Depois, adiou-se para janeiro porque, segundo palavras de Lula, no fim do ano o País só pensa em “Papai Noel”.

No início do ano, transferiu-se a reforma para depois da eleição das presidências da Câmara e do Senado, a pretexto de não contaminar a disputa com as insatisfações dos preteridos (e isso porque, de acordo com o Planalto, o presidente não considerava “adequado” interferir em outro Poder).

Eleito o candidato do PT, o novo adiamento para “antes do carnaval” foi atribuído à necessidade, de novo, de “acomodar as bases”. Mais recentemente, anunciou-se outra postergação para março.

A última justificativa de tão risível autorizaria os partidos a se considerarem devidamente engabelados pelo presidente, se não se sobrepusesse a qualquer sentimento a submissão fisiológica deles ao poder material do Executivo. Alega esta entidade misteriosa denominada na terceira pessoa do plural de “fontes próximas ao presidente” que a escolha do novo presidente do PMDB atrapalha a formação do ministério. Então, é melhor esperar para ver se Michel Temer continua ou se Nelson Jobim assume o lugar.

Vamos e venhamos: o que mesmo tem a ver uma coisa com a outra?

Lula governou quatro anos com Temer na presidência do PMDB, ignorou solenemente sua posição institucional, fez a interlocução com a ala oposicionista. Agora que Michel Temer aderiu e disputa com Jobim, que aderiu há mais tempo, ele precisa esperar para ver com qual dos dois vai conversar sobre ministério?

Para quem não quer fazer nada - ou porque está satisfeito ou porque não sabe o que fazer -, aguardar o entendimento dentro do PMDB é a situação ideal.

Assim como é de sobejo conforto pedir ao PT que se entenda sobre a demanda pela ocupação de 15 ministérios porque a possibilidade de consenso é tão real quanto imaginarmos que o presidente da República tenha na cabeça um plano de governo muito bem estruturado e nomes de uma equipe eficiente para executá-lo.

Não dispõe de nenhum dos dois. Apenas ganha tempo até quando for possível. Quando não for mais, distribui a cada um o seu quinhão e qualquer problema manda dizer que não sabia de nada.

Os duelistas

Os governadores José Serra e Aécio Neves estão convencidos dos malefícios do clima de disputa interna para os projetos presidenciais de ambos e, por isso, recentemente andaram trocando amabilidades em público.

O projeto paz-na-terra-entre-os-homens-de-boa-vontade, no entanto, só soará verossímil se, e quando, seus autores forem sinceros.

Os ilusionistas

Os deputados cassados José Dirceu e Roberto Jefferson têm uma maneira peculiar de demonstrar indiferença em relação aos projetos das respectivas anistias.

Jefferson repudia a proposta, mas passa uma hora conversando sobre ela com o secretário-geral do partido. Dirceu alega dispensar o PT da tarefa de abraçar a causa, mas é no palanque do partido que posa de herói da resistência.

Mal parado

A primeira investida do “novo” PFL para convencer o parceiro de oposição, PSDB, a aderir às bandeiras do fim das medidas provisórias e da extinção da CMPF fracassou. De olho da Presidência, os tucanos não querem abrir mão de receitas nem de prerrogativas do poder.

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