Entrevista:O Estado inteligente

sábado, fevereiro 10, 2007

Dogma do PT

O BC é a única âncora de credibilidade da política econômica
O PT volta a praticar um dos seus esportes prediletos, a caça ao Banco Central. A mania acompanha o governo desde o início do primeiro mandato de Lula, e serve, em momentos estratégicos, como toque de reunir da militância. A em certa medida surpreendente defesa do presidente do banco, Henrique Meirelles, feita ontem por Ricardo Berzoini é, como dizem os economistas, um ponto fora da curva.

Talvez não seja por acaso que mais essa operação de tentativa de desestabilização do modelo do BC — autônomo, mesmo que informalmente, e rígido na defesa da moeda, como qualquer banco central minimamente sério — ocorra enquanto facções petistas digladiamse em torno de uma reunião do diretório nacional do partido, marcada para hoje em Salvador, parte do calendário de comemoração pelos 27 anos da legenda.

A carga de cavalaria das tropas anti-BC coincide, também, com a vitória do petista Arlindo Chinaglia na corrida pela presidência da Câmara, considerada vital pelo partido para não ser alijado a um segundo plano nas costuras políticas para a escolha do candidato de Lula à sua sucessão.

Enquanto o pano de fundo políticopartidário do reaquecimento da campanha contra Henrique Meirelles é amplo, o pretexto para o ataque é basicamente um: o agravamento da tendência de valorização do real — e conseqüente desvalorização do dólar —, creditado, por equívoco, aos juros praticados pelo BC para conter pressões inflacionárias.

O diagnóstico é errado porque, mostram os números, a grande massa de dólares que entra no país se deve basicamente aos enormes superávits obtidos no comércio exterior.

Se muito dinheiro chega pela conta financeira — atraído pelos juros e as arbitragens, assim como pela Bolsa de Valores —, outro tanto sai. Basta constatar que no ano passado o saldo financeiro foi negativo em US$ 20,3 bilhões, e o comercial, positivo em US$ 57,5 bilhões.

Mas como a campanha contra o Banco Central é de fundo ideológico, esses números não contam. A esquerda, é sabido, tem uma ojeriza religiosa, dogmática e fundamentalista à orbita financeira da economia. É do seu DNA. Que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo menos tenha a clarividência de não investir contra a única âncora que hoje segura a credibilidade da sua política econômica, depois da saída de Antonio Palocci do Ministério da Fazenda.

Os dólares entram e o BC tem conseguido acumular um nível recorde de reservas externas, hoje próximas dos US$ 100 bilhões. Na prática, o país resgatou sua dívida externa pública — sem calotes e bravatas.

Mas, como tudo em economia, há uma contrapartida: um custo fiscal elevado, decorrente dessas compras de divisas, e o efeito negativo da valorização do real sobre as exportações. O custo fiscal se deve à diferença entre o que o BC ganha na aplicação das reservas e a Selic, usada na remuneração dos títulos do Tesouro lançados para financiar a compra dos dólares. O custo dos títulos é maior que a receita das aplicações.

Quanto ao incentivo às importações dado pelo real forte, há um aspecto positivo: ele ajuda a conter a inflação — fundamental para o presidente enaltecer o efeito dos gastos sociais do seu governo, o grande cabo eleitoral dele no ano passado.

A questão não é simples, mas se deve confiar na capacidade do mercado de equilibrar-se. Vital é o governo não cair na tentação de práticas intervencionistas heterodoxas, cujo resultado será ruinoso, por botar a perder a conquista de uma inflação relativamente baixa, sem controles de preços e com um câmbio flutuante.

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damentalista à orbita financeira da economia. É do seu DNA. Que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo menos tenha a clarividência de não investir contra a única âncora que hoje segura a credibilidade da sua política econômica, depois da saída de Antonio Palocci do Ministério da Fazenda.

Os dólares entram e o BC tem conseguido acumular um nível recorde de reservas externas, hoje próximas dos US$ 100 bilhões. Na prática, o país resgatou sua dívida externa pública — sem calotes e bravatas.

Mas, como tudo em economia, há uma contrapartida: um custo fiscal elevado, decorrente dessas compras de divisas, e o efeito negativo da valorização do real sobre as exportações. O custo fiscal se deve à diferença entre o que o BC ganha na aplicação das reservas e a Selic, usada na remuneração dos títulos do Tesouro lançados para financiar a compra dos dólares. O custo dos títulos é maior que a receita das aplicações.

Quanto ao incentivo às importações dado pelo real forte, há um aspecto positivo: ele ajuda a conter a inflação — fundamental para o presidente enaltecer o efeito dos gastos sociais do seu governo, o grande cabo eleitoral dele no ano passado.

A questão não é simples, mas se deve confiar na capacidade do mercado de equilibrar-se. Vital é o governo não cair na tentação de práticas intervencionistas heterodoxas, cujo resultado será ruinoso, por botar a perder a conquista de uma inflação relativamente baixa, sem controles de preços e com um câmbio flutuante.

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