Entrevista:O Estado inteligente

domingo, fevereiro 18, 2007

CELSO MING Tempo de colheita


celso.ming@grupoestado.com.br

O galope dos preços internacionais dos principais grãos e as recentes elevações das estimativas para a safra 2006/2007 apontam para um ano excelente para a agricultura brasileira.

Os dois principais organismos de prospecção projetam um aumento entre 4,7% (Conab) e 9,7% (IBGE) na safra deste ano, apesar da redução da área cultivada, calculada em cerca de 4%. Assim, a produção esperada vai de 126,5 milhões a 127,9 milhões de toneladas, a maior dos últimos quatro anos.

Outros indicadores corroboram essas previsões. Em dezembro, as vendas de fertilizantes aumentaram 24,3% em relação às de dezembro de 2005, segundo a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda). Dados da Anfavea mostram que as vendas de colheitadeiras em janeiro deste ano cresceram 22,4% sobre as de janeiro do ano passado.

Se as projeções se confirmarem, será inevitável o impacto sobre o fluxo da produção nas rodovias e nos portos nacionais quando a colheita estiver no auge.

A safra também está sofrendo influência da expansão do consumo mundial de etanol. Com o milho nos Estados Unidos sendo em boa parte desviado para essa nova destinação, os estoques têm diminuído. Os preços subiram 65,9% desde meados de setembro do ano passado. Outro efeito é a diminuição da área plantada com soja nos Estados Unidos para abrir espaço para o milho. Desde setembro, os preços do bushel de soja subiram 36,2% na Bolsa de Chicago.

O Brasil tem tudo para aproveitar esse vácuo. Mas, para não se afogar nos custos, terá de prover investimentos pesados, principalmente em armazenamento e condições portuárias. E, se lembrarmos que os maiores produtores brasileiros de milho estão na Região Centro-Oeste e, portanto, longe dos principais portos, a preocupação com a recuperação das estradas deve aumentar.

Sem novos investimentos, podem vir a se repetir as cenas de filas de caminhões parados nas rodovias que desembocam nos principais portos, como aconteceu em 2003. “Não acredito que haja novo caos, mas o futuro do agronegócio brasileiro depende da melhora da infra-estrutura”, adverte Amarylles Romano, da Tendências Consultoria.

O analista de mercado da Agra-FNP Fábio Turquino alerta para outro risco: o de que o mercado de soja enfrente volatilidade maior do que a de anos passados. “Os preços tomaram carona na alta do milho, mas os estoques mundiais estão muito altos.” Isso significa que a qualquer momento os preços podem sofrer ajustes, inclusive para baixo. “O produtor brasileiro precisa estar consciente disso e buscar ferramentas financeiras para planejar uma gestão de risco”, diz.

O setor ainda não se recuperou completamente do sufoco verificado em 2004 e não revertido em 2005. O engenheiro agrônomo do Instituto de Economia Agrícola (IEA) José Sidney Gonçalves observa que o agronegócio brasileiro só dará um salto de qualidade quando a produção anual chegar a 150 milhões de toneladas. “E isso só vai acontecer quando os gargalos da infra-estrutura estiverem resolvidos.”

COLABOROU DANIELLE CHAVES

Arquivo do blog