Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, fevereiro 20, 2007

CELSO MING Biocombustíveis e falta d’água

Quinta-feira o Fundo das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) divulgou comunicado em que adverte para a forte probabilidade de que, dentro de 20 anos, 60% da população mundial enfrente problemas com escassez de água.

O Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, realizado há duas semanas em Paris, já havia feito advertência parecida. Os estudos estão reforçando a preocupação mundial com a qualidade ambiental.

Um dos focos dessa preocupação são os novos investimentos em pesquisa e produção de combustíveis renováveis, como o etanol e o biodiesel. A idéia é reduzir o uso de combustíveis fósseis nas próximas décadas para deter o aquecimento global. A solução, no entanto, desemboca em novo problema: o do acirramento da escassez de água doce no mundo.

Na Inglaterra, o grupo ambientalista Biofuelswatch se insurge contra a prática de chamar os biocombustíveis de “energia renovável”. Outra organização internacional, a Friends of the Earth, estima que 87% do desmatamento na Malásia ocorrido entre 1985 e 2000 foi provocado pelo crescimento de culturas de palma (dendê), usada para produção de biodiesel. E adverte para os estragos que serão causados pela expansão da produção de matérias-primas destinadas à obtenção de combustíveis verdes.

O presidente americano George Bush, no discurso sobre o Estado da União, dia 23, pediu ao Congresso americano que mudasse a meta de consumo de combustíveis renováveis de 28,5 bilhões de litros por ano até 2012 para 132,5 bilhões de litros até 2017.

O principal combustível alternativo usado nos Estados Unidos é o etanol produzido a partir do milho, que rende 25 litros por saca de 60 quilos. Para atingir essa meta, seriam necessários 318 milhões de toneladas de milho, seis vezes mais do que o utilizado no ano passado para o mesmo fim.

No Brasil, o etanol produzido a partir da cana-de-açúcar, que rende 85 litros por tonelada, exigiria 454 milhões de toneladas de cana para a produção de 38,6 bilhões de litros prevista pelo Ministério da Agricultura para 2017.

Por mais que se desenvolvam tecnologias que aumentem a produtividade da lavoura e a eficiência das máquinas, dificilmente esse crescimento da produção ocorrerá sem expansão da área plantada e sem aumento da irrigação.

Diferentemente do que ocorre na cultura do milho nos Estados Unidos, a irrigação é pouco usada no Brasil. Ney Maranhão, gerente-executivo de Recursos Hídricos da Agência Nacional de Águas (ANA), admite que será inevitável um aumento do consumo de água doce. Mas ele acredita que essa desvantagem será compensada pelo desenvolvimento de novas tecnologias a serem impulsionadas pela elevação do preço da água ou pelo início da cobrança pelo seu uso.

A ONG WWF-Brasil está finalizando estudo sobre impacto ambiental do cultivo da cana-de-açúcar no País. As conclusões, ainda preliminares, apontam para aumento da erosão, contaminação dos solos e dos recursos hídricos com excesso de fertilizantes e pesticidas, derrubada de matas ciliares e aumento da poluição do ar com queimadas, que provocam forte poluição do ar.

O debate está só começando.

COLABOROU DANIELLE CHAVES

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