Editorial no Jornal do Brasil
É provável que poucos brasileiros ainda se espantem com a inesgotável soma de equívocos embutidos no espetáculo da incompetência federal. Mas ultrapassa os limites do tolerável a crise da aviação comercial brasileira, deflagrada pela operação-padrão dos controladores de vôos, agravada pela procissão de erros das autoridades e escancarada nas salas de embarque dos aeroportos. O suplício dos passageiros estendia-se ontem pelo quarto dia consecutivo.
Mas já dura duas semanas, abstraídos ligeiros intervalos provocados pelo refluxo de viajantes assustados com a visão das zonas conflagradas. Como muito se disse e nada se fez depois do feriado de Finados, as cenas de horror se repetiram, protagonizadas por milhares de brasileiros aprisionados nas cercanias dos terminais.
Qualquer país de dimensões continentais exige uma estrutura aeroviária de primeiro mundo. A julgar pela crise em andamento, o Brasil não merece figurar sequer na galeria dos emergentes. Assistiu-se ao desmoronamento de fantasias que não levaram em conta o crescimento da demanda, situado atualmente em explosivos 20% ao ano. Hoje, o tráfego aéreo doméstico movimenta mais de 33 milhões de passageiros por ano. Cerca de 21 milhões voam em rotas internacionais. São números eloqüentes. A má notícia é que faltam recursos mínimos para garantir ao sistema aeroportuário condições de atender a tal demanda.
É provável que poucos brasileiros ainda se espantem com a inesgotável soma de equívocos embutidos no espetáculo da incompetência federal. Mas ultrapassa os limites do tolerável a crise da aviação comercial brasileira, deflagrada pela operação-padrão dos controladores de vôos, agravada pela procissão de erros das autoridades e escancarada nas salas de embarque dos aeroportos. O suplício dos passageiros estendia-se ontem pelo quarto dia consecutivo.
Mas já dura duas semanas, abstraídos ligeiros intervalos provocados pelo refluxo de viajantes assustados com a visão das zonas conflagradas. Como muito se disse e nada se fez depois do feriado de Finados, as cenas de horror se repetiram, protagonizadas por milhares de brasileiros aprisionados nas cercanias dos terminais.
Qualquer país de dimensões continentais exige uma estrutura aeroviária de primeiro mundo. A julgar pela crise em andamento, o Brasil não merece figurar sequer na galeria dos emergentes. Assistiu-se ao desmoronamento de fantasias que não levaram em conta o crescimento da demanda, situado atualmente em explosivos 20% ao ano. Hoje, o tráfego aéreo doméstico movimenta mais de 33 milhões de passageiros por ano. Cerca de 21 milhões voam em rotas internacionais. São números eloqüentes. A má notícia é que faltam recursos mínimos para garantir ao sistema aeroportuário condições de atender a tal demanda.
Sob céus desertos de aviões, sinal inconfundível de prejuízos financeiros para todos (e de tormentos que afetam multidões indefesas), autoridades atarantadas montam planos de emergência, esbanjam incompetência e distribuem desinformação. Na terça-feira, por exemplo, diante do atraso de quase metade dos vôos do dia, o que fez o governo? Outra reunião urgente, da qual resultou uma nota tão lacônica quanto evasiva.
Os responsáveis pela administração do país prometem "todas as medidas necessárias" para regular a situação. Quais são exatamente, ninguém sabe. As reivindicações dos controladores são justas. Lamente-se, contudo, a metodologia escolhida para divulgá-las - que tem o apoio do ministro da Defesa, Waldir Pires. O ministro, aliás, nem enxerga a crise. Continua a avisar que os aeroportos funcionam normalmente, alheio à vida real e indiferente ao drama de incontáveis viajantes. Ele ignora que está diante de uma questão de segurança nacional.
O descaso com os passageiros estende-se à TAM e à Gol. Ambas mostraram despreparo para pôr fim a problemas dessa natureza. Pelo que exibiram até aqui, e a ausência de informação foi só o maior dos erros, convém reexaminar seus processos e normas de conduta para situações extremas, sob pena de saírem com a imagem abalada.
Que esta crise também ajude a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) a extrair lições relevantes. Idealizada para reduzir a militarização da malha aérea, a agência transformou-se em exemplo de nulidade pública. Não contribuiu para solucionar o impasse da Varig e mostrou incapacidade de decisão no acidente do boeing da Gol. Desta vez, seus porta-vozes só ampliaram a confusão.
Tudo somado, resta a certeza de que é preciso redefinir o setor aéreo. O sistema integrado - civil e militar - adotado em 1946 gerou economias de escala que permitiram o crescimento da aviação civil. Mas hoje dá sinais de fadiga. Agora se tem uma boa oportunidade para repensá-lo.
Os responsáveis pela administração do país prometem "todas as medidas necessárias" para regular a situação. Quais são exatamente, ninguém sabe. As reivindicações dos controladores são justas. Lamente-se, contudo, a metodologia escolhida para divulgá-las - que tem o apoio do ministro da Defesa, Waldir Pires. O ministro, aliás, nem enxerga a crise. Continua a avisar que os aeroportos funcionam normalmente, alheio à vida real e indiferente ao drama de incontáveis viajantes. Ele ignora que está diante de uma questão de segurança nacional.
O descaso com os passageiros estende-se à TAM e à Gol. Ambas mostraram despreparo para pôr fim a problemas dessa natureza. Pelo que exibiram até aqui, e a ausência de informação foi só o maior dos erros, convém reexaminar seus processos e normas de conduta para situações extremas, sob pena de saírem com a imagem abalada.
Que esta crise também ajude a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) a extrair lições relevantes. Idealizada para reduzir a militarização da malha aérea, a agência transformou-se em exemplo de nulidade pública. Não contribuiu para solucionar o impasse da Varig e mostrou incapacidade de decisão no acidente do boeing da Gol. Desta vez, seus porta-vozes só ampliaram a confusão.
Tudo somado, resta a certeza de que é preciso redefinir o setor aéreo. O sistema integrado - civil e militar - adotado em 1946 gerou economias de escala que permitiram o crescimento da aviação civil. Mas hoje dá sinais de fadiga. Agora se tem uma boa oportunidade para repensá-lo.