Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, novembro 02, 2006

Oposição diz que ação policial foi apenas o começo

Líderes dos partidos de oposição manifestaram seu repúdio à atuação da Polícia Federal nos depoimentos de jornalistas de VEJA na terça-feira. Para eles, o episódio foi grave e indica um risco à liberdade de expressão e imprensa. "É apenas o início do que, pelo que se prevê, vem por aí", lamenta o senador Heráclito Fortes (PFL-PI), que falou sobre o caso no plenário da Casa.

"Não é aceitável que um partido cujos integrantes tenham passado por vexames e constrangimentos na caminhada desta nação em busca de trilhas para a liberdade de imprensa esqueça tudo isso e justifique atitudes arbitrárias", afirmou o senador. Depois do pronunciamento dele, vários outros políticos se juntaram às críticas, inclusive cobrando explicações do governo federal.

"Conheço o ministro Marcio Thomaz Bastos e dele sou amigo, mas não posso admitir que silencie diante de tal violência", disse o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) sobre o ministro da Justiça. "Manifesto preocupação com os estranhos e lamentáveis constrangimentos a que foram submetidos os repórteres da revista", disse o governador eleito de São Paulo, José Serra (PSDB).

Serra, vencedor no primeiro turno da eleição no maior colégio eleitoral do país, lembrou que a legislação prevê outras formas de se proceder em casos assim. "Quando alguém se sente injustiçado pela imprensa, pode e deve recorrer aos instrumentos que nos faculta a democracia, jamais à intimidação. A imprensa não existe para apoiar ou discordar, mas para ser livre", lembrou.

"Será que esta é a postura nova que Lula diz que vai ter com a mídia? É constranger a mídia? Se é esta, ele vai nos encontrar pela frente. Recebeu essa enxurrada de votos, perdeu a humildade e está calçando salto alto demais", afirma o líder do PFL na Casa, José Agripino Maia (RN). A líder do PT, Ideli Salvatti (SC), foi até o plenário para defender a PF e o governo no caso.

O senador tucano Arthur Virgílio (AM) enviou a seguinte nota à redação de VEJA, informando por meio de seus assessores que pedirá na próxima semana, no Senado, a convocação do Ministro Márcio Thomaz Bastos para prestar esclarecimentos sobre o episódio.

NOTA DA LIDERANÇA DO PSDB NO SENADO

Arbítrio, nunca mais!

No dia 29, assim que se definiu o resultado do pleito, o candidato Geraldo Alckmin, num gesto elevado, telefonou para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumprimentando-o pela vitória.

Na mesma noite, o Presidente Lula discursou acenando à oposição com entendimento para aprovação de matérias de interesse do País.

No dia 30, fui à tribuna do Senado para anunciar que o PSDB está à disposição do Governo para aprovar as reformas que sejam do interesse do País, mas sem conchavos que envolvam sustar investigações ou inquéritos para apurar e punir atos de corrupção, passados ou futuros. O presidente nacional do PSDB, Senador Tasso Jereissati, fez declarações à imprensa no mesmo sentido.

Menos de 30 horas depois de o Presidente Lula ter sido reeleito, a liberdade de imprensa sofreu duas graves agressões. A primeira ocorreu ontem à tarde, em frente do Palácio da Alvorada, quando da volta do Presidente Lula a Brasília. Um grupo de exaltados militantes petistas lançou palavras-de-ordem contra órgãos da imprensa. A outra, mais grave, registrou-se hoje, em São Paulo, atingindo três jornalistas da revista VEJA.

Os três jornalistas, Júlia Duailibi, Camila Pereira e Marcelo Carneiro, foram intimados pelo delegado Moysés Eduardo Ferreira a comparecer à sede da Polícia Federal, em São Paulo, para falar sobre inquérito aberto para apurar suposto vazamento de informações. Seria a respeito de encontro clandestino, em dependência da Polícia Federal, entre Freud Godoy, ex-assessor do Presidente Lula, e Gedimar Passos, preso com a dinheirama do PT destinada a comprar falso dossiê para prejudicar as candidaturas de Geraldo Alckmin e José Serra.

Os jornalistas foram ouvidos por mais de duas horas. No fim da tarde, o delegado Moysés informou ao seu superior que eles foram tratados "com toda cortesia e urbanidade". Não foi o que disseram os jornalistas. A verdade é que a simples intimação para falar sobre reportagem que fizeram constitui claro atentado contra a liberdade de imprensa. O sigilo da fonte jornalística é assegurado pela Constituição Federal. O que se quis foi intimidar a imprensa!

O Presidente reeleito, portanto, começa mal. O hábito do cachimbo entortou-lhe a boca. Ainda é tempo de refletir e recuar.

A Liderança do PSDB repudia esse atentado contra a liberdade de imprensa e adverte: Alto lá, Presidente Lula! Alto lá, Ministro Márcio Thomaz Bastos! Alto lá, Dr. Paulo Lacerda! Arbítrio, neste País, nunca mais!

Brasília, 31 de outubro de 2006

Senador Arthur Virgílio

Líder do PSDB

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