O Globo |
14/11/2006 |
O prefeito reeleito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel, é, na sua própria definição, um petista não xiita, que sabe que os avanços da sociedade brasileira não começaram no governo Lula, mas fazem parte de um processo de mudança que vem se acumulando ao longo dos últimos anos, consolidado a partir da implantação do Plano Real, em 1994. Ele acha que a reeleição de Lula faz parte de um Brasil novo que emerge desse longo processo, que compara com o salto de modernização que o país deu nos anos 30, na transição do país agrário, de uma sociedade fechada, para o país urbano e industrializado, com as relações trabalhistas reguladas pela Consolidação das Leis do Trabalho (CLT). Agora, ele vê o país rumando para ser uma sociedade menos excludente, que busca como meta acabar com a pobreza, e cita uma frase do presidente Lula, depois da vitória, como uma síntese desse novo país: nosso adversário é a injustiça social. Economista com mestrado em ciência política, Pimentel tem uma visão otimista do processo político brasileiro, e diz que, para além das crises do mensalão, dos dossiês, das CPIs, da crise ética que domina a discussão política, existe uma movimentação subterrânea que muitas vezes não é sentida por quem está envolvido no dia-a-dia da política, mas que tem uma pujança semelhante aos movimentos políticos dos anos 30 que levaram à modernização do país. Pimentel mantém com o governador Aécio Neves uma relação mais que cordial, de parceria mesmo, e é um dos petistas que defendem a aproximação do PT com o PSDB. Considera que os dois partidos têm projetos semelhantes para o país, sintonizados com essa busca de uma sociedade menos injusta. Essa união seria necessária para aprovar no Congresso as reformas estruturais de que o país necessita para crescer, e o prefeito de Belo Horizonte põe entre elas a reforma da Previdência, que deveria, na sua opinião, ser recolocada na ordem do dia para acabar com os privilégios. Essa e outras reformas, como a tributária e a política, necessitariam de uma ampla discussão com a sociedade para que se alcançasse um consenso que permitisse a votação de alterações na Constituição. Pessoalmente, o prefeito defende a padronização nacional do ICMS, para impedir a guerra fiscal. Para Pimentel, a democracia já está incorporada definitivamente aos valores da sociedade, assim como não há mais espaço para populismos econômicos: "A sociedade rejeitaria, a estabilidade da economia também já é um valor incorporado", afirma. Pimentel está convencido de que também não há risco de retrocesso no campo dos avanços sociais e atribui à "linguagem de palanque" a acusação de que, se fosse eleito, o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, acabaria com o Bolsa Família: "As camadas populares começam a ter direito à educação, à informação e à cidadania". Apesar de reconhecer que os avanços da democracia brasileira são lentos, e que estamos perdendo terreno em relação a outros países emergentes, Fernando Pimentel chama a atenção para a diferença entre nosso processo democrático e a situação da China, por exemplo. "Nossa democracia é muito recente, apenas há 20 anos saímos de uma ditadura. No século XX, tivemos poucos momentos de plena democracia", pondera Pimentel, para em seguida chamara a atenção para os novos meios que estão à disposição da população para o exercício da democracia. Mesmo tendo uma visão política mais aberta, Pimentel, a exemplo de seus colegas xiitas, está convencido de que os meios de comunicação trabalharam, em sua maioria, para a derrota de Lula na recente eleição. O próprio Lula continua insistindo nessa tese e ontem mesmo, fazendo campanha para o presidente Chávez na Venezuela, se disse vítima do preconceito da imprensa brasileira durante a campanha. Mas Pimentel sugere que essa questão deve ser superada pelo diálogo democrático, com a superioridade de quem venceu a disputa. Ele acha que a reeleição de Lula, apesar da campanha contra, se deveu aos novos canais de informação que estão à disposição do eleitorado, e chama a atenção, sobretudo, para a influência da internet na distribuição de informações. Fernando Pimentel diz que é um engano considerar que a internet é uma ferramenta da elite e dá um exemplo em sua administração: ele está fazendo o que chama de "orçamento participativo digital". Distribuiu em Belo Horizonte terminais para que a população escolhesse obras prioritárias. Pimentel esclarece que não está defendendo a utilização de referendos para decidir questões, pois eles, embora previstos na legislação, são muito burocratizados. Ele acha que as consultas através da internet, ou até mesmo pelo celular, podem se transformar em uma nova maneira de participação da sociedade nas decisões do governo. Fernando Pimentel chegou a ser considerado uma opção para o Ministério da Fazenda, com o apoio ativo do ex-ministro Antonio Palocci. Seria uma indicação de que a "Era Palocci" não havia terminado, como garantiu o ministro Tarso Genro, sendo desautorizado pelo próprio presidente Lula. Mas os planos de Pimentel não passam por Brasília: ele quer ficar em Belo Horizonte e preparar sua candidatura ao governo de Minas, na sucessão de Aécio Neves. E, se possível, já sob o signo da união do PT com o PSDB. |
Entrevista:O Estado inteligente
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terça-feira, novembro 14, 2006
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