A coluna de ontem, com críticas ao que vejo como uma ação coordenada de setores do governo para tentar cercear a liberdade de imprensa no país, provocou amplo debate entre leitores, com mensagens de repúdio ao autoritarismo do governo, e também de críticas ao que seria a tentativa da grande imprensa de se pôr acima das leis e influenciar a opinião pública contra a reeleição. Parece alegrar os críticos dos meios de comunicação a falsa constatação de que a maioria da mídia tentou, mas não conseguiu, mudar o voto a favor da reeleição, o que demonstraria, como, aliás, o próprio presidente Lula repete, que a grande mídia já não influencia os eleitores, que “amadureceram”.
Essa tese foi bem-sucedida na votação da cassação dos mensaleiros, quando se espalhou a idéia de que “o monstro da opinião pública” não representava o pensamento do povo, mas da elite, e com isso quase todos envolvidos no mensalão foram absolvidos.
Mas muitos deles desistiram de se candidatar, e vários não conseguiram se reeleger, tudo por conta da “opinião pública”.
Essa é uma discussão muito presente nos dias atuais, quando os meios de comunicação ganham cada vez mais força na sociedade, refletindo seus pensamentos ou influenciandoos. A “opinião pública” surgiu no fim do século XVIII, e está ligada ao surgimento do estado moderno, quando as forças da sociedade ganharam espaço para suas reivindicações contra o absolutismo do reinado. O pluralismo de opiniões na grande mídia é uma característica da grande imprensa brasileira, na tentativa de atualizar o papel dos meios de comunicação, mas é contestado por alguns setores.
Hoje, o sociólogo francês Jean Baudrillard é um crítico da “sociedade do espetáculo” dominada pelos meios de comunicação, que substituem “o real por signos do real”.
Outro francês, Pierre Bourdieu, diz que existe uma opinião “mobilizada”, a das elites e dos grupos de pressão.
Ao mesmo tempo em que tentam minimizar o papel dos meios de comunicação, petistas e jornalistas chapabranca os acusam de terem provocado o segundo turno com as reportagens sobre os petistas presos com R$ 1,7 milhão para comprar o dossiê contra os tucanos.
Culpam as reportagens pelos fatos que retrataram.
Para além desse debate, há uma questão básica: chamar jornalistas para depor na Polícia Federal sobre reportagens que escreveram é, em si, um ato de intimidação, mesmo que não tenha existido, como alega a procuradora da República Elizabeth Mitiko Kobayashi, qualquer ato formal de intimidação.
O relato da procuradora, que acompanhou o depoimento, contrasta com o que sentiram os jornalistas. A procuradora admite em sua nota que aconteceram irregularidades no interrogatório, “que foram prontamente apontadas e sanadas no curso dos depoimentos”.
Os jornalistas não estão acima das leis, que existem exatamente para serem acionadas quando alguém se sentir ofendido ou caluniado por qualquer meio de comunicação. Mas não é admissível que jornalistas sejam constrangidos por convocações policiais, a qualquer pretexto.
Recebi do deputado eleito Ciro Gomes, citado por mim na coluna de ontem, mensagem cujas partes mais relevantes publico a seguir: “Não faço parte, nem faria, de qualquer articulação do governo — que inclusive não creio existir — com relação ao que você imagina ser uma escalada autoritária em relação à imprensa. (...) (...) em que momento minha opinião permite entender que eu pedi ‘incentivo financeiro para veículos que apóiem o governo’? Repito o que penso, respeitosamente: a liberdade de imprensa, para um verdadeiro democrata, é tão importante quanto o ar que respira ou o direito ao pluralismo, ou à tolerância com a diversidade ou o direito à vida ou o direito ao respeito à integridade moral.
(...) Qualificar este valor de forma democrática, sem preconceitos, interdições ou medo de arreganhos nunca desmereceu a qualidade das democracias maduras do mundo.
(...) No concreto, uma de minhas propostas antigas é que as instituições públicas e privadas devem estimular, apoiar, regulamentar, facilitar e financiar a mais profunda, diversificada e espalhada geograficamente estrutura de mídias alternativas, quaisquer que sejam suas linguagens, quaisquer que sejam suas linhas editoriais, quaisquer que sejam seus valores ideológicos, quaisquer que sejam, enfim, suas opiniões.
Cooperativas de jornalistas são apenas um de muitos exemplos práticos que materializariam estas idéias.
(...) Minha ‘língua ferina’ nunca esteve alugada pra ninguém.
Permanecerá, como sempre, a serviço de minha consciência e do Brasil.” O jornalista Carlos Chagas considera-se vítima de perseguição política devido a “observações contundentes” que tem feito “sobre certos atos e atitudes do governo atual”. Aposentado pelo INSS como jornalista desde fevereiro de 1996, após 37 anos de exercício da profissão, teve sua aposentadoria revista intempestivamente.
Nos 37 anos de exercício profissional, até a aposentadoria, Chagas trabalhou no GLOBO, onde ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo de 1970, no “Estado de S. Paulo”, na TV Manchete, entre outros, e foi professor de ética na Fundação UnB.
Este mês foi surpreendido com uma convocação do Grupo de Trabalho de Combate à Fraude. Como sua carteira de trabalho original foi extraviada, o INSS não aceitou as anotações sobre o período anterior à data de emissão da nova carteira. E também não aceitou o período em que Carlos Chagas trabalhou na TV Manchete, pois a empresa não deu baixa na carteira. E nem poderia, pois entrou em regime de falência.
Entrevista:O Estado inteligente
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