Entrevista:O Estado inteligente

terça-feira, novembro 14, 2006

Lula, a Venezuela, o Foro de SP e "o mesmo povo"



A imprensa brasileira continua a tratar do Foro de São Paulo como uma fantasia paranóica. Para quem não sabe — pesquisem um pouco —, o tal foro, que tem entre seus fundadores Luiz Inácio Lula da Silva e Marco Aurélio Garcia, reúne partidos e grupos de esquerda da América Latina, buscando uma agenda comum. Entre seus membros realmente notáveis (além dos petistas e dos bolivarianos de Chávez), estão as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).

Lula foi à Venezuela inaugurar uma ponte sobre o rio Orinoco, na cidade de Guayana, na fronteira com o Brasil. Trata-se uma bobagem, de uma irrelevância. Foi para ajudar na campanha eleitoral de Chávez. Não que o ditador precise disso. É para marcar posição. Mandou ver. Disse sobre os eleitores de Chávez: “É o mesmo povo que me elegeu, elegeu Kirchner [na Argentina], elegeu Daniel Ortega [na Nicarágua] e elegeu Evo Morales [na Bolívia] e sem dúvida vai eleger o presidente da Venezuela". Desses todos, só Kirchner não integra o tal foro.

Reparem: o Brasil acaba de ser tungado por Morales, sob os auspícios do presidente venezuelano. Sérgio Gabrielli, presidente da Petrobras, já anunciou que o gás terá seu preço reajustado — atribuiu o aumento que virá às leis de mercado. É mentira. Haverá o reajuste porque a Bolívia rasgou o contrato. Por que Lula adularia dois presidentes que, em tese ao menos, o traíram? Porque, com efeito, não houve traição. Pesquisem essa história da Petrobras na Bolívia. Vocês vão ver que o Brasil ensaiou protestos, a empresa também, e, no fim das contas, a Bolívia fez o que quis — ou, o que é pior: fez o que estava combinado. Como Lula deixa claro, trata-se do “mesmo povo”. Ou, como diria Carta Capital, a Petrobras já lucrou muito na Bolívia...

Só para não deixar passar: o Chávez elogiado por Lula é aquele que sufocou o Congresso, o Judiciário, que alterou a lei para poder se candidatar pela terceira vez, que proíbe manifestações da oposição, censura a imprensa, incentiva o terrorismo nuclear iraniano e, vejam só, proíbe Papai Noel em repartições públicas porque “símbolo do imperialismo”.

“É o mesmo povo”, diz Lula. O Foro de São Paulo avança, enquanto o Departamento de Estado dos EUA acreditam que o Apedeuta é mesmo uma alternativa a Chávez...
Por Reinaldo Azevedo

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