Entrevista:O Estado inteligente

domingo, novembro 19, 2006

ELIANE CANTANHÊDE A política como serviço

BRASÍLIA - As urnas foram até condescendentes com parlamentares envolvidos ou suspeitos de envolvimento em maracutaias, mas alguns dos deputados mais atuantes e mais experientes da Câmara simplesmente não vão voltar. Uns foram derrotados, outros nem disputaram.
Expoentes da Constituinte de 1988, à direita e à esquerda, respeitados pelos adversários e pela imprensa, estão entre as baixas: Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento na ditadura, Paulo Delgado, sociólogo e professor universitário, José Thomaz Nonô, advogado e procurador que cumpriu seis mandatos consecutivos, Roberto Freire, que atravessou legislaturas e reformas partidárias no partido comunista e seus sucedâneos, Sigmaringa Seixas, ex-advogado de presos políticos e de estudantes, ponte segura entre tucanos e petistas.
Essa gente faz falta, especialmente depois de uma legislatura marcada por mensalão, sanguessugas, a eleição de Severino Cavalcanti e um total desequilíbrio entre os políticos que fazem política e os arrivistas de toda sorte -que parecem emergir dos subterrâneos do Congresso para presidências e lideranças de partidos, para as comissões, para o poder, contaminando o ambiente e confundindo ainda mais a percepção dos cidadãos sobre a importância da política. O recado das urnas parece claro: acabou a era das campanhas de opinião e de debate de idéias, tão efervescentes em 1988, e impõe-se a "política como serviço", como define Paulo Delgado. Em resumo, o eleitor não vota mais em quem pensa o país e o futuro, mas em quem faz -ou pode, ou promete fazer- algo concreto para melhorar a sua vida já. Às favas as idéias, as políticas estratégicas. O momento é do individualismo. Cada um por si, e seja o que o eleitor quiser.

elianec@uol.com.br

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