Entrevista:O Estado inteligente

quinta-feira, novembro 02, 2006

CLÓVIS ROSSI O grito e o pacto

MONTEVIDÉU - O sociólogo argentino-brasileiro Guillermo O'Donnell, dos melhores do planeta, criticava, anos atrás, a transição brasileira para a democracia por ter sido "todos com todos". Queria dizer que todos os partidos do establishment uniram-se na mal chamada "Nova República", exceção feita ao PT, que, àquela altura, nem era "mainstream" nem era grande o suficiente para atrapalhar.
Ao ouvir o chamamento do presidente Lula a todos, oposição inclusive, o cheiro de "todos com todos" volta às narinas. Como se sabe, a transição foi muito bem-sucedida do ponto de vista institucional, a ponto de levar o país a ter o mais amplo elenco de liberdades públicas de sua história. Mas, econômica e socialmente, a história foi outra.
Minha má vontade em relação a essa "concertación" ampla, geral e irrestrita foi abalada ontem ante ponderações de Joaquín Estefanía, notável colunista de "El País" (Espanha), também diretor da Escola de Jornalismo desse cotidiano, sobre os Pactos de Moncloa, o acordão feito na Espanha para aplainar a transição para a democracia.
Estefanía diz, primeiro, que o importante do pacto não foi o seu conteúdo, mas o fato de ter sido assinado por todos os partidos principais, sinalizando um rumo que não seria alterado com as inevitáveis mudanças de governo.
Diz também que é fundamental que os sacrifícios previstos em acordos do gênero sejam "compartilhados igualmente". Interessante. Mas pode-se reproduzir no Brasil algo assim? Tenho minhas dúvidas, porque os partidos políticos representam muito pouco e defendem apenas projetos de poder, não projetos de país.
De todo modo, fica o registro, porque o Brasil precisa efetivamente de um pacto para o crescimento, hoje um grito consensual que, entretanto, não se plasmou em uma agenda política mínima.

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