FOLHA DE S PAULO
A s modificações que estão ocorrendo no desenho e na operação das economias de mercado durante a última década têm provocado um fenômeno muito interessante: o aparecimento de, para usar uma expressão cunhada por Alan Greenspan, vários "conundra" nos dados econômicos. Esse vocábulo do latim pode ser traduzido para o português como "mistérios" ou "enigmas". Ele foi usado recentemente pelo presidente do Federal Reserve ao se referir ao comportamento dos juros de longo prazo americano diante do aperto monetário realizado pelo BC dos EUA.
No Brasil, também convivemos com essa sensação quando analisamos o comportamento recente de variáveis econômicas importantes. Cito dois dos mais notáveis: como a economia continua crescendo, perto de seu potencial, mesmo com juros reais superiores a 14%; e como o saldo de nossa balança comercial continua aumentando mesmo com uma valorização do real que chega a mais de 25% durante os últimos 12 meses.
Tenho refletido sobre a ocorrência desses inúmeros "conundra", aqui e no exterior. Sou um seguidor convicto da metodologia keynesiana para entender os fenômenos econômicos. Esses enigmas refletem, em alguns casos, mudanças importantes em certos paradigmas do funcionamento das economias globalizadas de hoje, que levam tempo para serem compreendidas. Por outro lado, estou convencido de que em outras situações esses "mistérios" aparecem apenas em razão de um entendimento errado dos fatos.
No caso dos juros americanos de longo prazo, como já discuti nesta coluna, o desequilíbrio macroeconômico entre a maior economia do mundo e o bloco formado pelas economias asiáticas é um dos principais responsáveis pelas dúvidas manifestadas por Greenspan. No caso dos "conundra" verde-amarelos, temos razões internas para seu aparecimento.
Em relação ao crescimento econômico sustentado, mesmo com juros internos elevadíssimos, são dois efeitos principais que explicam o enigma. No caso da produção de bens de consumo duráveis, os financiamentos internos têm sido favorecidos, em razão da maior credibilidade da política econômica, por um expressivo aumento do prazo das operações de crédito. Com isso, o valor da prestação tem se reduzido, apesar da expressiva elevação das taxas de juro provocada pela ação do Banco Central. Como no caso do consumidor brasileiro o valor da prestação é que é visto como os juros pagos, tudo se passa como não estivesse havendo um aperto da política monetária.
No caso das exportações, o juro que influencia seu comportamento é em parte formado no mercado externo, pois as empresas exportadoras conseguem captar em dólares com mais facilidade. Com a maior confiança na economia brasileira, esses juros estão em queda há quase dois anos. Além disso, o exportador acaba engordando sua taxa real de câmbio efetiva e, portanto, seus lucros, com a aplicação no mercado interno de recursos captados no exterior, principalmente via ACC. Portanto a política monetária do Banco Central ajuda, e não atrapalha, nossas vendas externas.
Já a questão da pouca sensibilidade do saldo comercial à valorização cambial é um pouco mais complexa para ser entendida. No que se refere às exportações, temos o crescimento expressivo dos preços internacionais de produtos importantes de nossa pauta. Além disso, a utilização de créditos fiscais na exportação acaba por compensar os elevados impostos pagos na produção para o mercado interno. Com isso, há um estímulo mesmo em condições desfavoráveis da taxa de câmbio.
No caso das importações, a substituição de compras internas tem sido feita com muito cuidado pelas empresas brasileiras. Em passado recente, esse caminho revelou-se perigoso quando a taxa de câmbio desvalorizou-se em razão de crises externas. Mas já podemos sentir os primeiros sinais de que está aumentando essa arbitragem racional. O crescimento das importações de máquinas e equipamentos e a queda da produção interna verificada em julho podem ser os primeiros sinais.
Entrevista:O Estado inteligente
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