Entrevista:O Estado inteligente

sexta-feira, setembro 09, 2005

ELIANE CANTANHÊDE Em busca de um personagem

FOLHA DE S PAULO
 BRASÍLIA - Lula foi o "Lulinha paz e amor" na campanha presidencial de 2002, virou "líder mundial" no início festivo do governo, seguiu em frente como o "Lula das metáforas", encenou o "Lula constrangido" na sua primeira fala sobre a crise gigantesca e acaba de interpretar o "Lula indignado" em pleno 7 de Setembro.
O problema é que ele não convence mais nem como paz e amor, nem como líder mundial, nem como constrangido nem muito menos como indignado. Com Duda Mendonça na parada, já não convencia. Agora, sem ele, convence menos ainda. É um ator em busca de um personagem -um personagem convincente em 2006.
Na primeira versão de Lula na crise, o presidente reuniu os ministros na Granja do Torto e fez aquela declaração que misturava "traição", "indignação" e um meio pedido de desculpas, com sujeito indefinido. Tinha um ar entre acuado e desconfortável. Olhava para baixo, para cima, mal enfrentava as câmeras.
Na versão desta semana, ele tentou fazer o oposto: falar rápido, firme, grosso, quase zangado. Olhou direto para a câmera (olho no olho do telespectador-eleitor), repetindo que a política econômica não muda e mandando recados para os "mal-intencionados", sejam eles quem forem. Como disse Nelson de Sá na Folha, "Lula foi perdendo o fôlego, até terminar quase sem ar".
O presidente não tem mais o charme da campanha, acumulou o desgaste de ser governo e vive a um milímetro do centro da crise. O último grande erro foi tentar salvar Severino Cavalcanti, que acabou de vez ontem depois da entrevista do empresário que lhe dava o "mensalinho".
Lula e o PT na tropa pró-Severino? Era só o que faltava. O recuo foi inevitável.
Tarso Genro defende a tese da "refundação" do PT. Está na hora de se pensar também na "refundação" de Lula. Com outro marqueteiro, outro "núcleo duro", outro PT, outra base aliada. E, principalmente, com um novo personagem Lula.

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